Maria Madalena foi identificada freqüentemente com outras mulheres que aparecem nos Evangelhos. Na Igreja Latina, a partir dos séculos VI e VII, houve a tendência de identificar Maria Madalena com a mulher pecadora que na casa de Simão, o fariseu, ungiu os pés de Jesus com suas lágrimas (Lc. 7,36-50). Por outro lado, alguns Padres a escritores eclesiásticos, harmonizando os evangelhos, já haviam identificado esta mulher pecadora com Maria, irmã de Lázaro, que em Betânia unge com um perfume a cabeça de Jesus (João 12,1-11; Mateus e Marcos, no trecho correspondente, não mencionam o nome de Maria, apenas dizendo tratar-se de uma mulher e que a unção ocorreu na casa de Simão, o leproso (Mt 26,6-13 e par). Em conseqüência disso, no Ocidente, devido principalmente a São Gregório, generalizou-se a idéia de que as três mulheres eram uma só pessoa.
Mas os dados evangélicos sugerem apenas que se deve identificar Maria Madalena com a Maria que unge Jesus em Betânia, pois presumivelmente é a irmã de Lázaro (João 12,2-3). Os evangelhos também não permitem deduzir que seja a mesma que a pecadora que, segundo Lc. 7,36-49, ungiu Jesus, embora a identificação seja compreensível pelo fato de São Lucas, imediatamente depois do relato em que Jesus perdoa esta mulher, mencionar que algumas mulheres o ajudavam, entre elas Maria Madalena, de quem ele havia expulsado sete demônios (Lc. 8,2). Além disso, Jesus elogia o amor da mulher pecadora: muitos pecados lhe são perdoados porque muito amou (Lc. 7,47) e também se percebe um grande amor no encontro entre Maria e Jesus depois da Ressurreição (João 20,14-18). Em todo caso, mesmo em se tratando da mesma mulher, seu passado de pecados não é um desdouro. Pedro foi infiel a Jesus e Paulo um perseguidor dos cristãos. A grandeza deles não está na sua imunidade ao pecado, mas no seu amor.
Por seu papel de relevo no Evangelho, Maria Madalena foi uma protagonista que recebeu especial atenção em alguns grupos marginais na Igreja primitiva. Estes são constituídos fundamentalmente por seitas gnósticas, cujos escritos relatam revelações secretas de Jesus depois da Ressurreição e recorrem à figura de Maria para transmitir suas idéias. São relatos que não têm fundamento histórico. Padres da Igreja, autores eclesiásticos e outras obras destacam o papel de Maria como discípula do Senhor e anunciadora do Evangelho. A partir do século X surgem narrações fictícias que elogiam sua pessoa e que se difundem principalmente na França. É aí que nasce a lenda, que não tem nenhum fundamento histórico, de que Madalena, Lázaro e outros mais, foram de Jerusalém a Marselha, quando se iniciou a perseguição contra os cristãos, e evangelizaram a Provença. Segundo esta lenda, Maria morreu em Aix-en-Provence ou Saint Maximin e suas relíquias foram levadas a Vezelay.
Segundo a Legenda Áurea, Maria Madalena, enquanto viveu como eremita, era elevada, cada dia, aos céus pelos Anjos. Um dos anjos - o de verde - tem na mão um "chicote" (usado na penitência) e na outra o vaso de unguento (o atributo de Maria Madalena); outro dos anjos - o de vermelho - mostra as vestes de eremita que lhe eram retiradas nesses momentos de glória.
Demenico Zampieri - Maria Madalena em glória - 1620, Museu Hermitage
Muito se disse a respeio dela nesses últimos anos. Vários escritores sérios e menos sérios se cimentaram em descobrir seus segredos, lançar hipóteses e especular a seu respeito. De Dan Brown a Hathleen MacGowan, ou vice-versa, livros, filmes, cursos, workshops.
Em O segredo do anel, Kathleen Mcgowan, nos conta que empregou 20 anos de pesquisa para produzir o livro, viajou quatro continentes em busca da verdade por trás da lenda do evangelho perdido de Maria Madalena. Dentre as inúmeras fontes utilizadas, estão as múltiplas versões dos evangelhos apócrifos, os textos dos fundadores da Igreja, diversos documentos gnósticos, os pergaminhos do Mar Morto, além de toda a tradição oral passada ao longo das gerações na mística região do Languedoc, sul da França.
Em O Código Da Vinci, Dan Brown afirma que o casamento de Cristo é óbvio. Como base, ele usa argumentos como o de que sendo judeu e adulto, é certo pela tradição cultural da época de que ele teria se casado. Ele cita ainda evangelhos considerados apócrifos que contariam esta história e afirma que Jesus teria deixado a responsabilidade pela continuidade de sua obra não nas mãos de Pedro, mas de Maria Madalena, e por isso ela teria sido perseguida pelos apóstolos enciumados e ido refugiar-se, grávida, na França, após a crucificação de Cristo.
Livro mais vendido na lista do jornal New York Times por mais de 40 semanas, sucesso de bilheteria nos cinemas, O Código Da Vinci, ao misturar realidade e ficção, popularizou especulações e hipóteses como: Jesus realmente foi casado com Maria Madalena? Tiveram um filho? Constantino suprimiu os primeiros evangelhos e criou a doutrina da divindade de Cristo? Os evangelhos gnósticos representam a verdadeira fé cristã que a Igreja dos primeiros tempos do cristianismo tentou suplantar? Como responder às alegações de que existem documentos que revelam segredos sobre Jesus, segredos mantidos há séculos pela Igreja e outras instituições religiosas? Seria esses documentos uma ameaça para a concepção tradicional de Jesus e o cristianismo dos primeiros tempos? O que existe de verdade e de falso na obra O Código Da Vinci? A qual propósito ele foi escrito?
Ben Witherington II (ph.D., Universidade de Durhan, Inglaterra; professor do Novo Testamento no Seminário Teológico de Asbury, em Wilmore, no Kentuck, nos Estados Unidos, não se limita a refutar os erros históricos de O Código Da Vinci, mas também contesta as armadilhas espirituais que envolvem o romance, ao tempo em que abre uma discussão sobre o “feminino sagrado” e a relação Pai (Deus) Filho (Jesus) nos evangelhos. Seu livro é O fim do conflito, publicado no Brasil em 2006.
Abrahan Janssens e JanWildens - Noli me tangere, Museu de Belas Artes de Dunkerque