sábado, 31 de julho de 2010

Uma delícia sexagenária


A Nhá Benta, doce campeão de vendas da Kopenhagen, comemora em 2010 seus 60 anos. Para celebrar, a grife reuniu em um só produto outros dois clássicos para deleite da legião de fãs que o doce de marshmallow conquistou ao longo dos anos. Trata-se da Nhá Benta Clássicos, com base de wafer recheado com creme de Lajotinha, recheio de marshmallow com um toque de canela e mini Chumbinhos e cobertura de chocolate ao leite decorado com Chumbinhos. Em versões de 40 gramas cada, as embalagens custam R$18,30 cada. Nas de 50 gramas, o preço varia para R$8,10 cada unidade.

Criada em 1950, a Nhá Benta vingou depois de muitas tentativas, quando a marca Kopenhagen decidiu criar um biscoito com marshmallow e cobertura de chocolate ao leite. Eram todos feito à mão, em um saco, um por um, sobre papel-manteiga. Na hora de soltar não se aproveitavam todos. Foi aí que entrou o wafer, para fazer a base. Inicialmente batizado como Pão de Açúcar, em 1952, virou Sinhá Moça. E, em 1954, Nhá Benta foi a substituição natural de Sinhá Moça.

O segredo do sucesso começa no recheio simples a base de claras de ovos batidas com açúcar. “Mas o grande êxito está na combinação de todos os elementos: a embalagem, a abertura do produto, a textura e o sabor”, conta Orlando Glingani, gerente de marketing e inovações da Kopenhagen que participou ativamente dos lançamentos da Nhá Benta, desde 2001 à 2009. Atualmente, chegam a ser comercializadas 40 unidades por minuto nas lojas da rede Kopenhagen. Confira no site http://www.kopenhagen.com.br/site/default.aspx

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Entrevista no Programa Caldo de Cultura -TV UFPR


No primeiro quadro do programa, concedo uma entrevista sobre o livro O Céu na Boca, caminhando pelas alamedas do Mercado Municipal de Curitiba.
O programa foi ao ar ontem, dia 29/07/2010

Mais D&G


Dolce & Gabbana em parceria com Martini: o resultado? Uma nova bebida, Martini ® Gold, de Dolce & Gabbana. A combinação exclusiva, mistura bergamota da Calábria, limão e laranjas da Sicília, açafrão espanhol, mirra da Etiópia, gengibre da Índia e pimenta cubebe da Indonésia. O lançamento oficial da Martini ® Gold, byDolce & Gabbana será em setembro, mas provavelmente você pode encontrá-lo em locais selecionados já. Estou curioso para provar... Ah! Em breve entrará em circulação a propaganda da bebida, estrelada por Monica Bellucci, impecável num vestido de renda preto e o indefectível batom vermelho. Vamos aguardar.

Gold: o restaurante de Dolce & Gabbana




D&G Gold – o restaurante


Mais uma da dupla! Os mestres da moda, Domenico e Stefano entram triunfalmente para o mundo da gastronomia no ano passado, abrindo seu primeiro restaurante em Milão, na Via Carlo Poerio. A comida é italiana com um menu especial para os apreciadores de um regime saudável.

O conceito Gold ligado ao luxo, à dolce vita, à energia "intensa como o gosto pela estética e pelo prazer dos sentidos", está presente em cada detalhe. Paredes, escadarias, banheiros e talheres. O espaço se compõe de restaurante, bistrot, coffee room e cocktail bar. Aliás, o bar oferece uma smoking area, coisa rara em tempos de antitabagismo!
Os pratos não superam a cifra de 35 Euros, como o Crudo di pesce al caviale Calvicius e ostrica, lombo de Saint-Pierre com aspargos e zabaione de azeite extravirgem (30 Euros), Spaghetti alho, óleo, pimenta, botarga e camarões (18 Euros), Salada "della salute" (14 Euros). O destaque para as sobremesas vai para o Famoso lingote de ouro ao chocolate (18 Euros) e para a Cassata Siciliana (12 Euros), tradicional sobremesa da terra natal dos rapazes.Para concluir, um food shopping, para se levar para casa vinhos e doces, em elegantíssimas sacolas Gold. Confira o site: http://www.dolcegabbanagold.com

Quem diria: Madonna na Cozinha!






Pois é, as divas também têm seu dia de "maria". A campanha da marca Dolce&Gabbana apresentou a cantora Madonna em atividades domésticas. As fotografias foram publicadas com exclusividade na edição italiana da revista Vanity Fair, em dezembro do ano passado.

Lançando a campanha primavera/verão 2010, Dolce&Gabbana mostrou a estrela lavando louças, cortando legumes e comendo espaguete com as mãos, no click do americano Steven Klein.

Escritores e Cozinheiros (Rubem Alves)


Tenho um sonho que, acho, nunca realizarei: gostaria de ter um restaurante. Mais precisamente: gostaria de ser um cozinheiro. As cozinhas são lugares que me fascinam, mágicos: ali se prepara o prazer. Mas para preparar o prazer, o cozinheiro deve ser psicólogo, um adivinho de desejos, conhecedor dos segredos da alma e do corpo. Mas não sei cozinhar. Acho que é por isso que escrevo. Escrevo como quem cozinha. Minha cabeça é uma cozinha. O cozinheiro cozinha pensando no prazer que sua arte irá causar naquele que come. Eu escrevo pensando no prazer que o meu texto poderá produzir naquele que me lê.

A relação entre cozinhar e escrever tem sido frequentemente reconhecida pelos escritores. É a própria etimologia que revela a origem comum de cozinheiros e escritores. Nas suas origens, sabor e saber são a mesma coisa. O verbo 1atino sapare significa, a um tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava-se dizer de uma comida que ela sabia bem. Saber e experimentar o gosto das coisas: comê-las. O sábio é aquele que conhece não só com os olhos, mas especialmente com a boca. Quem conhece só com os olhos conhece de longe, pois a visão exige distância; muito de perto a gente não vê nada. Quem conhece com a boca conhece de perto, pois só se pode senti gosto daquilo que já está dentro do corpo.

Suspeito que Roland Barthes também tivesse uma secreta inveja dos cozinheiros. Se assim não fosse, como explicar a espantosa revelação com que termina um dos seus mais belos textos, a lição? Confessa que havia chegado para ele o momento do esquecimento de todos os saberes sedimentados pela tradição e que agora o que lhe interessava era "o máximo possível de sabor''. Ele queria escrever como quem cozinha - tomava os cozinheiros como seus mestres. Ele queria ler como quem come uma comida deliciosa.

Mário Quintana também diz do seu sonho de produzir com a escrita, uma coisa que fosse boa de ser comida e trouxesse deleite ao corpo.

Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...

A ideia de comer me sugere uma associação deliciosa. Pois comer não se aplica só ao que acontece a mesa. Comer se usa também para descrever o que acontece na cama. Comer e fazer amor. O cozinheiro e o amante são movidos pelo mesmo desejo: o prazer do outro. A diferença está em que o amante oferece o seu próprio corpo para ser comido, como objeto de deleite. O escritor, à semelhança dos amantes, também oferece o seu corpo ao outro, como objeto de prazer. Só que sob a forma de palavra. Cada escritura é uma celebração eucarística: Tomai, comei, isto e o meu corpo...

A leitura tem de ser uma experiência de felicidade. Desejo o prazer do meu leitor. E cada leitor, como o sugeriu Barthes, impõe ao escritor uma condição para seu prazer: "O texto que o senhor escreve tem de me dar prova de que ele me deseja.'' É preciso que as palavras façam amor, como o sugeriu Andre Breton. Por isso que Borges aconselhou aos seus estudantes que eles só deveriam ler os textos que lhes dessem prazer: "Se os textos lhes agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto a felicidade obrigatória.'' Não se pode comer por obrigação. Não se faz amor por obrigação. Não se pode ler por obrigação.

É este o secreto desejo de cada escritor: o prazer do leitor.

Enquanto viajava liguei o rádio do meu carro e ouvi o anúncio de um curso de leitura dinâmica: a leitura sob o domínio da velocidade. Esta é a última coisa que um escritor pode desejar. Pois o prazer exige tempo. Quem está no prazer não deseja que ele chegue ao fim. Comer depressa, para acabar logo? Fazer amor depressa, para acabar logo? O prazer é preguiçoso. Arrasta-se. Demora. Deseja parar para começar de novo. E depois de terminado, espera pela repetição.

Esta é a razão por que eu gostaria de ser cozinheiro. É mais fácil criar felicidade pela comida que pela palavra... Os pratos de sua especialidade, o cozinheiro os sabe de cor. Já foram testados, provados, gozados. Basta repetir, fazer de novo o que já foi feito. Mas é justamente isto que está proibido ao escritor. O escritor é um cozinheiro que a cada semana tem de inventar um prato novo. Cada semana que começa é uma angústia, representada pelo vazio de três folhas de papel em branco que me comandam: "Escreva aqui uma coisa nova que dê prazer!'' Escrever é um sofrimento. Todo texto prazeroso conta uma mentira. Ele esconde as dores da gestação e do parto. De vez em quando alguém me diz: "Como você escreve fácil!'' Fico feliz. Alguém me confessou o seu prazer no meu texto. Mas sei que esta facilidade só existe para quem lê. O fogo que me queimou ficou na cozinha. Mário Quintana diz que é preciso escrever muitas vezes para que se dê a impressão de que o texto foi escrito pela primeira vez. Sim, para que se dê a impressão... Porque se o sofrimento do escritor aparece, o seu texto terá o gosto de comida queimada.

Por isso que, a cada semana, sinto uma enorme tentação de parar de escrever. Para sofrer menos. Escrever é um cozinhar em que o cozinheiro se queima sempre.

Mas vale a pena ficar queimado pela alegria no rosto de quem come a comida que se fez.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Santa Marta - padroeira das cozinheiras (29/7)


Consta que eram confeccionados e vendidos em ocasiões festivas, especialmente durante a Festa de Santa Marta de Corroios, que viria a realizar-se até aos primeiros anos do século XX. Durante os dias de festejos, para além das cerimônias religiosas que incluíam a procissão, não faltavam os piqueniques, feitos à sombra das frondosas árvores existentes nos arredores da Capela, as vendas dos bons vinhos da região e dos genuínos bolinhos de Santa Marta, feitos segundo receita do lugar.
A secular receita, que inclui farinha, açúcar, ovos, limão, canela e amêndoa, chegou ao conhecimento da proprietária do Restaurante o Virgílio, como tendo sido duma anciã, de seu nome Henriqueta de Paiva, antiga residente na Quinta da Cabouca, no Alto do Moinho. Consta, da tradição oral do local, que esta senhora, nascida por volta de 1860 e que terá morrido na década de 1940, confeccionava os “Pastelinhos de Santa Marta” para consumo caseiro e em ocasiões festivas.
LIMA, Manuel António Santos, Minha Terra co(m a)rroios, Plátano Editora, 2001, p 34.

Pastelinhos de Santa Marta - receita de Seixal

Receita para 12 pastelinhos
Massa:
300 gr. de farinha
2 dl. de água

Recheio:
200 gr. de amêndoa moída com pele
100 gr. de queijo fresco
300 gr. de açúcar fervido em 1,5 dl. de água
Canela a gosto
Raspa de limão a gosto
5 gemas
1 ovo inteiro

Modo de preparar:
Faz-se a massa para as formas, amassando a farinha e água com consistência suficiente para estender. Forram-se as formas pequenas e redondas. Juntam-se os ingredientes do recheio numa massa fluida. Enchem-se as formas e vão ao forno polvilhadas com amêndoa moída.

domingo, 11 de julho de 2010

Caviar de Escargot




Duas iguarias internacionais, caviar e escargot, reunidas num só produto, lançaram uma nova tendência na gastronomia de luxo que está cativando chefs internacionais: o caviar de escargot, muito parecido com ovas de caviar de salmão japonês tradicionais, porém maiores e mais gordas. O sabor é descrito como uma experiência única em vários fóruns de gastronomia. França e Japão são os principais mercados, mas os Estados Unidos estão descobrindo e consumindo a novidade. As ovas de escargot são consideradas um alimento de luxo, pois um caracol, ao longo de um ano, produz apenas 4 gramas de ovos. É preparado em uma salmoura de flor de sal marinho de Guérande e uma gota de óleo vegetal. Um quilo é vendido a chefs por € 1200 e necessita de 260 caramujos para a sua produção. Já os consumidores “comuns” podem comprar 50 gramas por cerca de € 80. Por enquanto o caviar de escargot está disponível na Harrods, em Londres, Hediard e La Grande Epicerie em Paris, Boucherie du Molard e Lyzamir em Genebra, Loegismose na Dinamarca, Plantin e Beverly Hills Caviar nos Estados Unidos e Caviar House, na Holanda.

Fazendas do Império


Acabamos de adquirir o livro "Fazendas do Império", textos de Tasso Fragoso Pires, Mary del Priore e Roberto Conduru e belíssimas fotos de Cristiano Mascaro. É uma visita às 47 propriedades que são mostradas ao longo de 308 páginas. É quase como ter o dono da casa guiando os passos do visitante e mostrando os aposentos mais importantes, já que algumas fazendas, de tão grandiosas, chegam a ter 54 cômodos distribuídos em 2.500 metros quadrados, como é o caso da sede da Pao Grande, uma das maiores construções rurais do Brasil, localizada em Avelar, próximo à Paty dos Alferes. Das fazendas relacionadas no livro, 31 ficam no Rio, dez em São Paulo e seis em Minas. (Edições Fadel, R$ 100,00)

sábado, 10 de julho de 2010

Dia da Pizza: é hoje!



A pizza é hoje para os italianos algo como o Coliseu, como Michelangelo ou como as notas de “O’ Sole Mio”. Ao lado da Coca-Cola, são ícones do século XX que vão se perpetuando, mas sua origem é ainda desconhecida. Cada um de seus principais ingredientes está intimamente ligado a um fato da história italiana. Segundo uma versão clássica, uma bisavó da atual pizza, uma simples massa feita de farinha, água, fermento e sal, nasceu como uma fogazza (focaccia) nas cozinhas romanas, e servia de prato para receber as iguarias durante as refeições.

A história quer como autor desse alimento o romano Marco Gavio Apicio, famoso pelo livro de receitas De Re Coquinaria. A focaccia foi chamada de apicia, da qual se supõe veio a pizza. Mas o Dicionário Etimológico Italiano diz que o termo pizza deriva do gótico-lombardo, antigo alemão, Bizzo ou Pizzo, traduzido como pedaço, pedaço de pão, focaccia. Os egípcios foram os responsáveis pelos processos de fermentação e pela invenção do forno, e essas informações são indiscutíveis. Porém, os pães e ou focaccias que preparavam eram exclusivamente para uso em rituais.

Os gregos também eram grandes fabricantes de pães e sem dúvida tal tradição foi absorvida pelos romanos, junto da filosofia e do gosto pelas artes. Sem dar crédito às fantásticas hipóteses sobre sua origem, a pizza é um alimento típico das culturas que se desenvolveram ao longo do Mediterrâneo. E é em uma das “rainhas do Mediterrâneo”, a cidade de Napoli, que ela encontrará sua pátria e o ponto de partida para a conquista do mundo. Porém, foi preciso que Napoli esperasse a descoberta da América, em 1492, para que o ingrediente mais importante desse alimento fosse a ele incorporado: o tomate.
Um artista do fogão

Conta-se que, na primeira metade do século XVIII, o cozinheiro da corte dos reis de Bourbon, na capital do Reino de Napoli e das Duas Sicílias (a Sardenha era considerada outra Sicília), um tal Totó Sapore, um verdadeiro artista do fogão e muito mimado pelo rei, seria o criador dessa maravilha. Um dia, um invejoso da corte colocou um fio de cabelo no magnífico assado que Totó havia preparado para o jantar real. E o pobre cozinheiro, mesmo inocente, foi para a prisão.

No cativeiro o artista inconformado arquitetou um plano para que fosse libertado: escreveu um bilhete ao soberano pedindo a liberdade em troca de uma nova iguaria que lhe prepararia. E a tal iguaria possuía as seguintes características: “Deve ser cozida em menos tempo que o macarrão, não será nem primeiro e nem segundo prato, nem carne e nem peixe; será quente como o inferno e deliciosa como o paraíso; redonda como o mundo e cheia de fogo como o sol de verão. Majestade”, concluía Tató Sapore em sua carta, “se serei capaz de criar um prato assim, sem dúvida serei merecedor da liberdade”.

O soberano instigado em sua gula aceitou a proposta e logo após a saída de Totó da prisão chegava à sua mesa o novo prato. Quando o rei experimentou a massa macia e crocante ao mesmo tempo, dourada e perfumada pelo vermelho do tomate, o engenhoso cozinheiro foi libertado definitivamente com uma condição: que preparasse aquela delícia todos os dias para a família real inteira.

À moda de Napoli - e de Sophia Loren

Até aqui a lenda, e como é sabido, o molho de tomates (pummarola em napolitano) ainda não havia sido inventado. O que se sabe por documentos escritos, é que a pizza fez sua primeira aparição nos palácios burbônicos de Napoli em 1762. Era um manjar comum entre o populacho e consumido em grandes quantidades por custar pouco e porque se podia comer sem prato, de pé na calçada, simplesmente dobrando-o em quatro partes, ou “a libretto” como se diz em Napoli (aliás, é assim que recomenda a napolitaníssima Sophia Loren!).

É documentado também que o rei Ferdinando I, que governou Napoli entre 1759 e 1825, um dia entrou na pizzaria de Antonio Testa, vulgo ’Ntuono e pediu para experimentar a comida plebéia em suas diversas variantes. Ficou tão entusiasmado que mandou inseri-la na corte. Mas a verdadeira ascensão da pizza ao trono de Napoli foi com seu sucessor, Ferdinando II, que, em 1832, mandou construir fornos para pizzas ao lado dos famosos fornos para a queima da Real Porcelana de Capodimonte, fábrica secular fundada pelos Habsburgo.

Foi somente durante o verão de 1889 que o último ingrediente da pizza veio a completá-la: o rei Umberto I e a rainha Margherita estavam hospedados no Palácio de Capodimonte. Foi chamado o pizzaiolo mais conhecido da cidade, Raffaele Esposito, que, em honra dos reis, acrescentou a mussarela à pizza para que, junto ao vermelho do tomate e ao verde do manjericão, lhes fizesse recordar a bandeira italiana: verde, branco e vermelho.
Imortalizado nos livros

O prato tradicional napolitano foi imortalizado pela literatura, principalmente, nas páginas dos romances da escritora e jornalista Matilde Serao (Patras 1856, Napoli 1927). Ela retratou o homem napolitano em seus mais diversos aspectos, pintando um grande quadro da vida urbana, e nos legou importantes documentos sobre o modo de se alimentar de sua população. No romance O País da Cocanha (Il Paese di Cuccagna – 1890), Serao narra as peripécias e cambalachos que os napolitanos, ricos e pobres, viciados no jogo de loto faziam para sobreviver e continuar jogando. Era uma mania, que levava famílias inteiras à ruína econômica e moral. A Cocanha é um país imaginário e teve a origem na picardia francesa na Idade Média. Sua abundância representava um incansável desejo de comer até a saciedade numa oferta ilimitada de iguarias e bebidas.

Nessa terra o rio é de vinho, a chuva é de pudins, comem-se muita cerne e muitos peixes de grande valor comercial. Não existe água e não existe pão; nem especiarias, nem sopa, nem vegetais. Não se cozinha na Cocanha, pois é um mundo sem instrumentos e sem utensílios. O pão também não existe, já que o trabalho de moagem não existe e os alimentos, já cozidos, caem diretamente na boca dos habitantes, sem que eles trabalhem para se sustentar. Era esse o sonho de todo napolitano pobre. Não precisar mais trabalhar e ter a mesa repleta de comida decente.

O Carnaval era sinônimo de abundância, de retorno ao sonho da Cocanha. E os dias de Carnaval assim foram imortalizados por Matilde: os célebres três pizzaiolos napolitanos, do Vico Freddo e Chiaia, do Largo Carità e de Port’Alba recomendavam ao público amante das pizzas, aquela dupla pizza que se chama calzone e aquela fritura que faz fios que tem o nome de filoscio, sem se esquecer das costeletas à pizzaiola, que eles estariam abertos até a manhã servindo vinho de Merano e dos Montes de Procida.

Aquilo que se come

Em outro livro, a jornalista e escritora Serao faz um retrato dos hábitos alimentares, das crendices, das manias e das paixões do povo napolitano após a grande epidemia de cólera de 1884 em resposta ao parlamentar Depretis que visitou a cidade e pronunciou a epigráfica frase “Bisogna sventrare Napoli” (É Preciso Sanear Napoli). O livro chamou-se então O Ventre de Napoli e foi publicado pela primeira vez em capítulos no jornal romano Capitan Fracassa, a partir do número 258, de 17 de setembro de 1884. Um dos ensaios, intitulado “Aquilo Que Comem”, elucida as tradições culinárias da cidade e como se alimentam – como o próprio título sugere – os moradores da metrópole do Sul, que, na época, contava com uma população de meio milhão de habitantes. E a pizza novamente é protagonista.

Protagonista e definida como uma criação napolitana por excelência: um dia, um industrial napolitano teve uma idéia. Sabendo que a pizza é uma das adorações culinárias napolitanas, sabendo que a colônia napolitana em Roma era grande, pensou em abrir uma pizzaria em Roma. O cobre das caçarolas e dos discos brilhavam, o forno ardia sempre; encontravam-se todas as pizzas: pizza com tomate, pizza com mussarela e queijo, pizza com alice e óleo, pizza com óleo, orégano e alho.

Nos primeiros tempos a multidão corria até lá; depois foi diminuindo. A pizza, tirada de seu ambiente napolitano, parecia uma distorção e representava uma indigestão; sua estrela empalideceu e caiu em Roma; planta exótica, morreu na solenidade romana. Mais adiante ela reitera a idéia da pizza como manjar dos pobres dizendo que a pizza entra na larga categoria dos comestíveis que custam um centésimo, e da qual é composto o café-da-manhã ou o almoço de grande parte do povo napolitano.

O mestre pizzaiolo

A figura do pizzaiolo também foi analisada por ela com riqueza de detalhes: o pizzaiolo que tem sua loja, à noite, faz um grande número de pizzas, feitas de uma pasta densa, que se queima mas não cozinha, cheias de tomates quase crus, de alho, de pimenta, de orégano: essas pizzas em tantas espécies de um centésimo são entregues a um moleque que as vai vender em alguma esquina de rua, sobre uma bancada ambulante e ali permanece quase todo o dia, com esse número de pizzas que gelam ao frio, que amarelecem ao sol, comidas pelas moscas.
Há também fatias de dois centésimos para as crianças que vão à escola; quando a provisão se acaba, o pizzaiolo a repõe, até o fim do dia. Há também, durante a noite, alguns moleques que carregam na cabeça um grande escudo convexo de estanho, dentro do qual estão essas fatias de pizza, giram pelas vielas e dão um grito especial, dizendo que têm pizza com tomate e com alho, com mussarela e com alice salgado. As pobres mulheres sentadas nas escadarias dos cortiços as compram e jantam, isto é, almoçam com esse centésimo de pizza.

Outro escritor napolitano a imortalizar a pizza foi Giuseppe Marotta, autor de San Gennaro non Dice mai No, uma descrição de seu retorno a Napoli, em 1947, após o término da Segunda Guerra. Napoli foi destruída física e moralmente pelas tropas alemãs, mas o espírito alegre, bonachão e apreciador da boa mesa não foi cancelado pela crueldade estrangeira. Marotta num diálogo com o autor de canções napolitanas, Giuseppe Rossetti, outro apaixonado pela cidade e por suas tradições, decanta as qualidades da pizza e escolhe como cenário a tradicional pizzaria do Largo da Carità: Ah! A pizza.

Doce e amargo

É doce, é amarga, é longa, é breve, é antiga, é nova, é segura, é imprevisível, é pão, é recheio, é superlativamente boa: é a pizza. Gosto desse alimento dos pobres, comovente e cheio de símbolos como a hóstia. De farinha, de água, de banha, de tomate, de mussarela e de calor se compõe a pizza: atenta não somente ao calor do forno que a enruga com leves queimaduras, mas também ao calor humano dos dedos de quem as prepara.

O pizzaiolo atrás do balcão, com qual arte e com qual amor achata e abre o cubo de massa: são pequenos golpes, ora grandes e suaves, ora fortes e penetrantes, das pequenas e inteligentes mãos como aquelas dos obstetras; a seguir, a cândida plataforma está pronta para receber os temperos: o pizzaiolo a belisca com banha, espalha por sobre ela os triangulozinhos de mussarela e uma pitada de queijo, derrama um pouco de molho e diz: “Vamos com a pá; pronto, vamos”. Transcorridos alguns minutos. A pizza finalmente nasceu.

E se a identidade de um povo pode ser construída por diversos elementos, também o alimento pode ser considerado um deles. E de extrema importância, pois talvez nenhum outro povo se preocupe tanto com o fator alimentar como os italianos. Considero impossível dissociar qualquer realização do homem italiano de atos e/ou atitudes ligadas ao culto da boa mesa ou do simples (seria mesmo tão simples assim?) ato de comer. A literatura é, sim, uma grande fonte de pesquisa para se entender essa nuance da vida humana, e mais do que nos livros de receitas e manuais de cozinha, podemos encontrar nos escritos de caráter vernáculo, importantes informações que não estão presentes na literatura especializada do setor.

Fotos de Tadeu Brunelli publicadas na Revista Prazeres da Mesa

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Comidinhas para a final da Copa: Gazpacho

Comecemos com um prato espanhol, já que a seleção espanhola é a favorita, inclusive na opinião do polvo Paul.

Ingredientes:

500 g de tomates bem maduros picados, sem pele e sem sementes

4 dentes de alho

2 colheres de sopa de azeite de oliva extra virgem

1 pepino pequeno picado

1 pimentão vermelho picado

200 g de croutons

sal a gosto

vinagre branco a gosto


Modo de preparar:

Coloque os dentes de alho cortados ao meio no liquidificador junto com os tomates, cortados em pedaços. Tempere com sal, vinagre e adicione um pouco de água gelada. Bata bem, entre 3 a 4 minutos. Coloque o pepino, o pimentão e o azeite e bata por mais alguns minutos. Corrija o sal se necessário. Eu costumo colocar, também, pimenta dedo de moça! Pegue uma tijela, coloque algumas pedras de gelo e passe todo o líquido batido numa peneira. Sirva gelado, acompanhado de croutons e decorado com cebolinha picada.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Caviar Fashion

Em homenagem ao grande estilista Yves Saint-Laurent, a Maison Prunier (www.caviarhouse-prunier.com) lançou uma edição limitada de caviar chamada Love 2010. A imagem provêm de um cartão enviado por Saint-Laurent a familiares e amigos cujo tema era o amor.

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Eis aqui a capa de meu novo livro, resultado de uma pesquisa de alguns anos, e que apresenta receitas dos Santos, da Hierarquia Eclesiática, do Calendário Litúrgico, dos Lugares Santos, dos Lugares "Menos" Santos e dos Pecados Capitais. São 101 receitas originárias de diversos países, e brasileiras, de diversas regiões.
O lançamento, em Curitiba, será no dia 19/07, à partir das 19 h, na Saraiva Megastore do Shopping Crystal Plaza. Espero vocês lá.