quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Barão de Paramirim

Miguel José Maria de Teive e Argolo, primeiro e único barão de Paramirim (Cotegipe, Bahia, c.1802 — 1868) foi um fazendeiro e militar brasileiro. Filho de José Joaquim de Teive e Argolo e Maria Luísa de Argolo Queirós, casou-se com sua prima Bernarda Maria de Teive e Argolo. Aos 20 anos de idade participou, como capitão da infantaria de milícias, da campanha da Independência do Brasil. Era tenente-coronel da Guarda Nacional em São Francisco do Conde, em 1839. Elevado a coronel honorário do Exército, em 1864. Era, também,  Comendador da Imperial Ordem de Cristo, Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro e fidalgo cavaleiro da Casa Imperial.

Prato do serviço de porcelana do Barão
manufatura francesa do século XIX


"Outrora reinava a mesma sociabilidade farta; entretanto a tristeza da mulher colonial, o seu retraimento, a rudeza dos hábitos primitivos e duros, não permitiam ainda que os salões se abrissem, para o luxo e a delicadeza dos saraus. As festas eram de ordinários campestres ou religiosas, ao ar livre, em contato com a natureza, cavalhadas, calçadas, refeições medievais, nos pátios dos engenhos, adoçadas pela música dos negros, pelos descantes dos trovadores que batiam as estradas pagando os agasalhos com as canções, pelos discursos burlescos e pelos jogos florais. A várias dessas cenas de sabor quinhentista se referiu, na sua poética, Gregório de Matos, parceiro delas, e obrigatória figura das folganças e aventuras da fidalguia, nos engenhos baianos do fim do século XVII. Século e meio depois, as portas da casa-grande se tinham aberto, iluminando-se com os candelabros de prata as salas mobiliadas à moda francesa. O cravo e o piano substituem a viola boêmia dos cantadores do passado e os instrumentos bárbaros dos músicos africanos. As senhoras recebem de Paris o vestido, as jóias; e os homens trazem das universidades alemãs a educação moderna, o cavalherismo romântico, e o gosto intelectual, a figura das raças requintadas. As mansões do recôncavo (pequenos castelos...) adornam-se primorosamente, afidalgam-se de arte e cerimoniais, reproduzem, em hábil transação com a rotina e a barbárie das senzalas, uma vida de pequena corte, com os lacaios fardados, as carruagens e os barcos de passeio, os festins, a hospedagem nobre, a ostentação que devia indicar o grau de cultura, a hierarquia do senhor. Organizam eles as suas bibliotecas, nas quais tem lugar de honra a Revue de deux mondes e as obras dos enciclopedistas do século XVIII. No engenho “Morenos” em Pernambuco, leu o imperador um manuscrito do “Castrioto”... Formam assim o espírito crítico, estrangeiro naquele meio acanhado, enchendo-o porque as ressonâncias da Pátria eram mais vagas, mais distantes, de impressões e curiosidades européias. Contrariam a tradição da casta, antigamente sedentária, imobilizada nas suas terras de cana, viajando muito. A primeira necessidade disto estava no ensino dos filhos. Rotos os laços portugueses, ainda desacreditadas as faculdades do país, o que lhe parecera mais próprio e digno fora mandar os rapazes a Heidelberg e Berlim. Na década de 30-40, as universidades da Alemanha educam numerosos brasileiros, sobretudo baianos, pernambucanos, maranhenses. Regressando ao engenho, levam consigo o “ambiente” oral da mocidade; exilam-se no torrão natal; não se adaptam mais à brutalidade do trabalho servil e à melancolia da vida campesina; são espiritualmente outros tantos desenraizados. Mas fomentam a civilização, transplantando-lhes as comodidades: estudante que volta, transporta na bagagem a alfaia, o utensílio, a indumentária, o livro, o sport, os vícios sociais, as aspirações políticas, o móvel dourado, os quadros célebres, os figurinos modernos, que compõem, na Europa, o decoro aristocrático, ou da pretensiosa burguesia. Generaliza-se a mania do retrato a óleo, as paredes da casa-grande, tão despidas nos tempos lamentáveis da reclusão feminina, resplandecem agora, com a galeria de quadros de família. Os melhores artistas ganham a vida no Brasil, retratando os morgados; alguns, em excursões pelo interior, enriquecem, pintando baronesas e fazendeiros. Vem depois a tapeçaria, os “serviços” de Saxe e Limoges, as mobílias de Boulle, a prataria do Porto, os cristais de Boêmia, a preceptora alemã, o professor particular, o administrador para o engenho, substituindo o bronco feitor de calabrote em punho, e o restante aparato, que arruína devagar, mas brilhantemente, o proprietário agrícola. O barão de Paramirim, senhor de engenho na Vila de São Francisco, homenageou o imperador e sua comitiva – em 1859 – com duas admiráveis, imperiais baixelas de prata e porcelanas finas. Semelhante opulência achou D. Pedro II pelos engenhos que visitou, na Bahia e em Pernambuco, nesta província principalmente na propriedade de Antonio de Souza Leão..."

CALMON, Pedro. História Social do Brasil: Espírito da Sociedade Imperial. São Paulo: Martins Fontes, 2002. v. 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário