domingo, 15 de abril de 2012

Taralli


Ontem o forno aqui de casa funcionou a todo o vapor. Aliás, bota vapor nisso, pois a temperatura subiu aqui em casa muito além da marca dos 30º C que assinalavam os termômetros  aqui da Cidade Maravilhosa. Resolvi encarar o desafio de fazer taralli, biscoitos típicos da cidade de Napoli.
O tarallo foi mencionadono livro "Il ventre di Napoli", da escritora e jornalista Matilde Serao ao descrever os famosos cortiços próximos ao porto, onde a miséria e a fome reinavam. Como muitos produtos da antiga tradição culinária, o tarallo é filho da criatividade e do "jeitinho" napolitano, marca daquele povo, cuja principal preocupação era a necessidade de matar a fome e utilizar todos os recursos possíveis para tal fim. E foi assim, que no final do século XVIII, os padeiros que não queriam jogar fora o "sfriddo", aqueles retalhos de massa que sobravam da preparação do pão, inventaram o tarallo: adicionaram a "nzogna", a banha em língua napolitana, bastante pimenta, e amassaram novamente aqueles restos de massa dando-lhes a forma de roscas. E foi um sucesso. Sendo um alimento "pobre", o tarallo teve e ainda tem uma grande difusão. Os padeiros ficaram contentes pois não jogavam nada fora e ainda tinham lucro com aqueles "restos", e lucrava também o povo que, com pouco dinheiro, enchia o faminto estômago com algo saboroso e com um aporte calórico considerável, graças à banha. Lucravam também os taverneiros que vendiam muitos quilos de taralli em seus locais, pois a pimenta estimulava o consumo de vinho. 

(figura de presépio napolitano - foto de Piero Castellano)

E como em Napoli tudo era vendido na rua, não tardou a surgir a figura do "tarallaro", do vendedor ambulante desses biscoitos. Com seu típico pregão e uma cesta de vime coberta com um pano para conservar o calor daquela delícia recém saída do forno, ele girava pelas ruas e vielas da cidade anunciando o seu produto. Mas o último tarallaro morreu nos anos 8o, e seu pregão não mais ecoa pelas ruelas do centro histórico. O tarallo, ainda bem, não morreu com ele, e são muitos os locais ainda é possível comprar o verdadeiro tarallo e se deliciar com a massa que se desmancha na boca. O clássico tarallo napolitano é redondo e leva amêndoas em sua superfície. Aqui vai uma variação com folhas de alecrim fresco e gergelim.
E mãos a obra:







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