segunda-feira, 25 de julho de 2011

Torta de Santiago de Compostela


Tisi da Garofalo - Apóstolo São Tiago

É chamado de “Maior” para distingui-lo de homônimo apóstolo, Tiago de Alfeu (o Menor). Nasceu em Betsaida, no lago de Tiberíades, filho de Zabedeu e de Salomé (Mc 15,40; Mt 27,56) e irmão de João Evangelhista. Com o irmão foi um dos primeiros discípulos de Jesus (Mc 1,19; Mt 4,21; Lc 5,10). De caráter impetuoso, como o irmão, foi chamado por Jesus de “Boànerghes” (filho do trovão) (Mc 3,17; Lc 9,52-56) e era um dos prediletos do Mestre junto com Paulo e André. Foi testemunha, com Pedro, da Transfiguração do Senhor no Monte Tabor (Mt 17,1-8; Mc 9,2-8; Lc 9,28-36), da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37-43; Lc 8,51-56), assistiu à cura da sogra de Pedro e junto de Pedro e João fez vigília no Getmsemani na véspera da Paixão (Mc 14,33ss; Mt 27,37s).
Segundo Isidoro de Sevilha, Tiago foi para a Espanha para difundir o Evangelho. Em seu tempo havia um grande fluxo comercial de minerais, de estanho, ouro, ferro e cobre entre a Galícia e a costa da Palestina. Nessas viagens eram trazidos para a Europa objetos ornamentais, pedras de mármore, especiarias e outros produtos, comprados principalmente em Alexandria e em portos ainda mais orientais, e é possível que Tiago tenha realizado a viagem da Palestina para a Espanha em um desses navios, desembarcando na Andaluzia, onde começou sua pregação. Proseguiu, depois, para Coimbra e Braga, passando, segundo a tradição, através da Iria Flavia no Finis Terrae hispânico, onde continuou a pregação.
No Breviário dos Apóstolos (fim do século VI) é atribuída ao santo a evangelização da “Hispania” e fala da sua sepultura em Arca Marmárica. Sucessivamente, já na segunda metade do século VII, o erudito monge inglês chamado de Venerável Beda, cita novamente esse fato na sua obra, e indica com surpreendente exatidão, o local da Galícia onde se encontra o túmulo do apóstolo. A tradição popular indica o túmulo no alto das colinas do Vale de Padrón, onde havia um culto das águas. Ambrosio de Morales no século XVI, em sua obra A Viagem Santa conta: “Subindo a montanha, na metade de seu flanco, há uma igreja onde dizem que o Apóstolo pregava e rezava missas, e debaixo do altar-mor surge uma fonte de água, a mais fria e mais delicada que já provei na Galícia”. Esse local é hoje chamada de “O Santiaguiño do Monte”.
Seu retorno para a Terra Santa foi através da via romana de Lugo, através da Península, passando por Astorga e Zaragoza, onde, desolado ele recebeu o consolo e o conforto da Virgem Maria, que lhe apareceu, segundo a tradição, em 2 de janeiro de 40), às margens do rio Ebro, sobre uma coluna romana de quartzo, e lhe pediu para construir uma igreja naquele local. Esse acontecimento serviu para explicar a fundação da Igreja de Nuestra Señora del Pilar de Zaragoza, hoje basílica e importante santuário mariano espanhol. Navegando pelo Ebro, Tiago chegou a Valencia, para depois ir para Murcia ou Andaluzia, e então retornar à Palestina entre 42 e 44 d.C..
Já na Palestina, junto ao grupo dos “Doze”, as colunas da primitiva igreja de Jerusalém, foi impedido de continuar suas pregações. Desprezando tal proibição, anunciava a sua mensagem evangelizadora entrando nas sinagogas e discutindo a palavra dos profetas. A sua grande capacidade comunicativa, a sua dialética e a sua personalidade, fizeram dele um dos apóstolos mais seguidos na missão de evangelizar.
Herodes Agripa I, rei da Judéia, para aplacar os protestos das autoridades religiosas hebraicas, escolheu-o para o martírio, condenando-o à decapitação. Desse modo foi o primeiro mártir do Colégio Apostólico.
Segundo a tradição, o escriba Josias, encarregado de conduzir Tiago ao suplício, foi testemunho do milagre da cura de um paralítico que invocavo o santo homem. Josias, perplexo e arrependido, converteu-se ao cristianismo e suplicou o perdão do Apóstolo, que lhe pediu um recipiente com água e o batizou. Ambos foram decapitados no ano 44.
Diz a lenda que os discípulos de Tiago, Atanásio e Teodoro, recolheram o seu corpo e sua cabeça e os transportaram de Jerusalém para a Galícia, de navio. Esses discípulos, uma vez na Espanha, pediram a Lupa, uma nobre pagã, rica e influente, de sepultar o corpo do santo nas terras de seu feudo, próximo ao castelo de Francos, a pouca distância da atual cidade de Santiago de Compostela. Ela submeteu o pedido ao governador romano Filótros, que residia em Dugium, próximo a Finisterra. Longe de entender as razões daqueles homens, ordenou a sua prisão. Segundo a lenda, os discípulos foram milagrosamente libertados por um anjo. Chegados à ponte de Ons ou Ponte Pías, sobre o rio Tambre, assim que atravessaram a ponte, ela ruiu e eles puderam fugir tranquilamente da perseguição dos romanos. Lupa os levou até o Monte Iliciano, hoje Pico Sacro, lhes ofereceu alguns bois selvagens que viviam naquelas terras em liberdade, e uma carroça, para que transportassem os restos do santo de Padrón até Santiago.
Narra a lenda que os bois começaram a seguir pela estrada sem recber nenhuma ordem, e que num determinado local, pararam e começaram a escavar a terra com suas patas. Imediatamente começou a brotar água do local. É a atual Fonte Franco, onde, mais tarde, foi edificada uma igreja. Os bois prosseguiram o caminho e chegaram a um terreno de propriedade de Lupa; ali pararam. Ela doou o terreno para a construção da sepultura do santo, onde hoje está a Catedral de Santiago.


Torta de Santiago de Compostela
Receita tradicional da cidade Santiago de Compostela (Espanha)

Ingredientes
170g de farinha de trigo
20g de açúcar de confeiteiro
350g de açúcar
7 ovos
1 colher de sopa de canela em pó
120g de manteiga
500g de amêndoas descascadas
½ cálice de vinho doce (Porto, Madeira ou Marsala)

Modo de preparo
Tostar as amêndoas no forno e depois moê-las. Derreter a manteiga. Peneirar a farinha de trigo sobre uma superfície lisa, fazer um monte e no centro dele, adicionar um ovo e a manteiga derretida, trabalhando ate obter uma massa lisa e homogênea. Embrulhar a massa numa película transparente e deixar repousar por 30 minutos. Em uma tigela, misturar uma colher de pau as amêndoas moídas, o açúcar e a canela. Acrescentar o vinho doce, colocar os ovos, um a um, mexendo sem parar. Untar com manteiga uma forma de torta de 26 cm de diâmetro e polvilhar com farinha de trigo. Abrir a massa com o auxilio de um rolo e colocá-la na forma untada. Despejar o recheio composto de amêndoa e ovos. Assar em forno pré-aquecido, a 170º C, por 30 minutos. Tirar do forno e desenformar sobre um prato de bolo. Deixar esfriar e finalizar cobrindo a torta com o açúcar de confeiteiro a ser pulverizado com uma peneira.

A tradição da torta real de Santiago de Compostela
Na Idade Média, uma grande leva de peregrinos visitou seu túmulo, que acabou se tornando o terceiro maior centro de peregrinação católica, junto a Roma e Jerusalém. A primeira notícia que se tem do uso do “biscoito de amêndoa”, que hoje se conhece como Torta de Santiago, Torta de Compostela ou Torta de Santiago de Compostela, data de 1577, durante uma visita de d. Pedro de Porto Carrero à Universidade de Santiago de Compostela, ainda que naquela época fosse denominada “torta real”. As primeiras receitas da torta provêm das notas de Luis Bartolomé de Leybar, datadas de 1838, sob a designação de “tarta de almendra”.
A tradição manda recortar em papel o molde da Cruz da Ordem de Santiago e colocar sobre a torta. Depois, polvilhar a torta com açúcar de confeiteiro e retirar o molde. A cruz ficará, assim, desenhada na torta. A origem da Cruz de Santiago representada na sua superfície data de 1924, ano em que a confeitaria “Casa Mora” de Santiago de Compostela começou a enfeitar as tortas de amêndoas com aquela que se tornaria a sua silhueta característica. Desde 3 de março de 2006, a Torta de Santiago de Compostela passou a ser uma denominação de origem protegida. 

Do livro O Céu na Boca, 2010.

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