domingo, 28 de agosto de 2011

Curiosidade: colheres para absinto

França - séc. XIX

Esta colher perfurada é usada para dissolver um cubo de açúcar num copo de absinto.
Coloca-se  a colher por cima do copo com absinto e coloca um cubo de açúcar por cima da colher. Na era Vitoriana, pingava-se uma gota de láudano no torrão de açúcar! Despeja-se água por cima do cubo e através das perfurações da colher. Adicionar açúcar serve para adoçar a bebida e diminuir o amargor da mesma.
"Van Gogh, Rimbaud, Beaudelaire. Um trio irrepetível, com uma musa comum. Uma bebida destilada feita da erva arthemisa absynthum. No século XIX, era a bebida dos que procuravam novas sensações. Os efeitos do absinto tornam-na um pecado tentador para os artistas. Após o seu consumo, embora o corpo apresente efeitos de embriaguez, os sentidos estão apurados: os cheiros mais fortes, as cores mais intensas. A Fada Verde tem ainda o condão de concentrar o mundo inteiro num detalhe; aqueles que bebem absinto podem abstrair-se de tudo o que os rodeiam e focar-se numa melodia, numa forma, e apreciá-la com todos os sentidos. Esta qualidade explica o porquê da unânime adesão dos artistas franceses.
Poetas como Rimbaud e Verlaine atribuíam ao absinto a sua inspiração, a capacidade de se desligarem do real, de observarem o que os rodeava de uma nova perspectiva. Degas, Sarah Bernhard, Van Gogh, Lautrec, Gauguin, Manet e Monet são apenas alguns dos nomes dos que apreciavam as tertúlias inspiradas pela Fada Verde e cujo trabalho foi concebido sob a influência da musa que habitava as garrafas de absinto. Na companhia de um copo de absinto escreveram e pintaram, debateram e partilharam ideias, comentaram mundaneidades, cantaram ou declamaram poesia.
Na França da segunda metade do século XIX, o absinto era um símbolo de inspiração artística e por isso o nome “Fada Verde”, “Musa Verde” ou, nas palavras do ocultista britânico Alastair Crawley - que chegou a vir a Portugal para conhecer Pessoa - a “Deusa Verde”.
De inspiração dos vanguardistas a ópio dos mundanos e ódio de estimação de uma opinião pública alimentada por manchetes sensacionalistas, o absinto passou de bebida adorada a bebida banida nos principais estados europeus. O absinto era, claramente, uma bebida demasiado à frente para o século XIX. Rapidamente os mais hediondos crimes foram justificados pelo consumo desta bebida, constando a Fada Verde nos títulos mais escabrosos apregoados pelos ardinas. O ateísmo, a vida errática e boémia, a inconstância e, em alguns casos, até a demência, eram factores associados ao consumo de absinto. Há inclusive inúmeros relatos sensacionalistas que associam os crimes “de faca e alguidar” ao consumo de absinto.
De bebida popular em 1840, a Fada Verde foi proibida em quase todos os países europeus no princípio do século XX, à excepção do Reino Unido, Suécia, do Império Austro-Húngaro, Espanha e Portugal.
Nos anos noventa, com a liberalização da sua produção e consumo pela União Europeia, assistiu-se ao renascer das cinzas da Fada Verde que surge agora não como musa de artistas, como meio de alcançar um estádio de surrealismo, mas como catalizador de noites loucas, de binge drinking.
A bebida que hoje está associada a shots, foi em tempos a musa inspiradora de uma das mais prolíferas gerações de artistas de sempre. A segunda metade do século XIX dedicou-lhe poemas, quadros numa exaltação comum de uma musa proibida.
Hoje e Ontem
O absinto, hoje e então, poucas vezes é consumido puro. O ritual de consumo de absinto também o separa das restantes bebidas destiladas. Em Portugal, a forma mais popular de consumo de absinto é em shot. Num copo pequeno, deita-se um bocadinho de vodka (há quem ponha um cheirinho de sumo de limão). Cobre-se o copo com meia rodela de limão polvilhada de açúcar e canela. Deita-se absinto no limão e deixa-se escorrer. Com um isqueiro, deixa-se o absinto arder um bocadinho e bebe-se de um trago.
No século XIX, o absinto era também servido num copo pequeno. Juntava-se uma dose pequena da Fada Verde e colocava-se no topo do copo uma colher de absinto (uma espécie de colher com furinhos), em cima do qual era posto um cubo de açúcar. Depois vertia-se lentamente água gelada sobre o cubo de açúcar até à proporção de 3 para 1. O anis, presente no absinto, não se diluía na água o que dava à bebida um tom baço e perlado.
Origens
Atribui-se a sua criação, tal como o conhecemos e consumimos hoje, a um farmacêutico de Neuchatel, Suíça. A primeira destilaria de absinto surge pela mão de descendentes do seu criador e de Henry-Louis Pernod, tornando-se a origem de um império e referência na produção de bebidas alcoólicas que, com a junção à família Ricard, forma o império Pernod-Ricard que dura até hoje."
Texto de Isabel Calado disponível em http://www.ruadebaixo.com

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coleslaw

A salada coleslaw é uma salada clássica americana, servida na maioria dos restaurantes. Essa salada, embora muita gente pense que tem origem judaica ou no leste europeu, ao que tudo indica é oriunda do centro da Europa. Kollsa é uma contração de "koolsalade". A adição da maionese é mais recente. A coleslaw é, portanto, mais uma receita imigrante que faz sucesso nos Estados Unidos. Já é documentada naquele país desde 1785.

"Os primeiros colonos europeus da costa oriental da América do Norte trouxeram sementes de repolho com eles, e o repolho era um dos vegetais favoritos em todas as colônias. Os holandeses que fundaram a Nova Holanda (New York State) plantavam repolho extensivamente ao longo do rio Hudson. Serviam-no à maneira tradicional de seu país, muitas vezes como koolsla (salada de repolho picado). Este prato se tornou popular em todas as colônias e sobrevive hoje como salada de repolho. Por volta de 1880, o repolho e seus primos haviam caído em desgraça nas classes superiores, devido aos fortes odores sulfurosos que estes vegetais emitem ao cozinhar. Mas este vegetal resistente e versátil nunca desapareceu das cozinhas da classe média."
Fonte:
Oxford Encyclopedia of Food and Drink in America, Andrew F. Smith [Oxford University Press: New York] 2004, Volume 1 (p. 147)



Receita original American de 1839

Cold Slaugh.
“Select firm, fragile heads of cabbage, (no other sort being for for slaugh); having stripped off the outer leaves, cleave the top part of the head into four equal parts, leaving the lower part whole, so that they many note be separated till shaved or cut fine from the stalk. Take a very sharp knife, shave off the cabbage roundwise, cutting it very smoothly and evenly, and at no rate more than a quarter of an inch in width. Put the shavings or slaugh in a deep china dish, pile it high, and make it smooth; mix with enough good vinegar to nearly fill the dish, a suffient quantity of salt and pepper to season the slaugh; add a spoonful of whole white mustard seeds, and pour it over the slaugh, garnish it round on the edge of the dish with pickled eggs, cut in ringlets. Never put butter on cabbage that is to be eaten cold, as it is by no means pleasant to the taste or sight."
Fonte:
Lettice Bryan. Kentucky Housewife. Facsimile reprint 1839 edition stereotyped by Shepard & Stearns:Cincinnati, p. 192-3.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pastéis de Santa Clara

Hoje é dia de Santa Clara de Assis. Veja mais informações em:
www.artereligiao.blogspot.com

Os doces conventuais são bocados divinos caídos do céu para o deleite do nosso paladar. As antigas receitas eram segredos muito bem guardados no interior dos conventos femininos de clausura. com o passar do tempo, esses segredos foram revelados ao mundo, e hoje, esses doces são confeccionados e comercializados pelas melhores confeitarias do mundo.
Sem dúvida, dentre os doces conventuais, o mais famoso deles, e talvez o mais popular, é o Pastel de Santa Clara.


Esse doce é, também, o mais popular dos doces conventuais de Coimbra, estando associado ao convento do mesmo nome. Fundado no século XIII, o Convento de Santa Clara-a-Velha gozou da especial proteção da rainha Santa Isabel que ali passou parte de sua vida, e também foi olar de Inês de Castro. Devidos às cheias do rio, foi abandonado em 1677 e as religiosas mudaram-se para o convento de Santa Clara-a-Nova, onde se encontra o túmulo da rainha-santa.
Nos séculos passados, as religiosas utilizavam a clara de ovo para engomar roupas e para preparar hóstias, e acabaram por inventar receitas com as abundantes gemas que sobravam. Conta-se, em Coimbra, que as irmãs mais velhas ao ensinar outras freiras a preparar a massa do doce, diziam que a massa deveria ser esticada tanto, ao ponto de deixá-la tão fina que se pudesse ler uma carta colocada debaixo dela.

Mosteiro de Santa Clara a Velha, Coimbra

Ingredientes:
300 g de massa fillo
margarina derretida
Para o recheio:
100 g de amêndoas sem pele e moídas
9 gemas
250 g de açúcar
1/2 copo de água

 Modo de preparar:
Levar ao fogo o açúcar e a água e deixar ferver até formar uma calda espessa. Retirar do fogo, colocar as amêndoas, as gemas levemente misturadas mexendo vigorosamente para não talhar. Voltar ao fogo brando e sem parar de mexer, deixar engrossar até aparecer o fundo da panela. Deixar esfriar. Descongelar a massa fillo conforme instruções do fabricante. Separar duas folhas: pincelar a primeira com margarina derretida e cobrir com a outra folha. Cortar discos maiores que a forminha, forrar a forminha, colocar o recheio e tampar com o outro disco. Pincelar margarina derretida e levar para assar em forno pré aquecido 180º até que fique dourado. Depois de assado e frio, polvilhe com canela e açúcar.