quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Restaurante Assírius atual Café do Theatro


Memórias do Rio: Restaurante Assírius no Theatro Municipal – Praça Marechal Floriano - Cinelândia. No momento funciona ali o Café do Theatro. Segundo fontes, ficou fechado por quase 20 anos, e foi um dos melhores e mais caros restaurantes do Rio de Janeiro.
O Assírius tem esse nome por causa da sua decoração, uma clara alusão à ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, que narra a história da fuga dos hebreus da Babilônia, sob o domínio de Nabucodonosor. Ocupa toda extensão do teatro em sua largura com uma entrada pela Av. Rio Branco e outra pela Rua Treze de Maio, no subsolo do teatro, exatamente debaixo do palco.

Ao descer as escadas laterais das chapelarias nos corredores das frisas, chega-se aos vestíbulos do restaurante, com oito quadros de mosaico do italiano Gian Domenico Facchina, representando cenas de peças famosas da Dramaturgia universal.
O restaurante é uma jóia, todo revestido de cerâmica esmaltada francesa, inspirado na antiga Babilônia. O local está dividido em dois planos, o teto é baixo sustentado por colunas que terminam com cabeças de touro, em estilo persa.


Em sua decoração vê-se a frisa dos leões e a rampa das escadas do palácio de Artaxerxes, a frisa dos arqueiros da sala do trono de Dario I e os enormes Kerubs, que guarnecem as escadas. Há ainda o Gilgamesch do palácio de Sargão e duas belíssimas fontes, com motivos persas e babilônicos.


Os espelhos têm molduras em bronze, e por trás deles estão a copa e a cozinha.
De grande originalidade são as luminárias, com novos acréscimos.


Aquilo que os romanos cobravam 3 mil francos franceses o metro quadrado e os venezianos 1.500 FF, o italiano Gian Domenico Facchina fez por 185 francos (dados de Giovanna Galli, em L’ art de la Mosaïque). O sucesso foi tanto que Facchina foi contratado daí em diante para fazer uma série de mosaicos monumentais. Entre os numerosos edifícios parisienses que acolhem suas obras, estão o Théatre du Châtelet, o Hôtel de Ville, o Louvre, o museu Carnavalet, o Petit Palais, o Trocadero, o Bom Marché, a Printemps, o Hotel Astoria, a École des Beaus-Arts e a Igreja de Sacre-Coeur de Montmartre. Além da França, seu ateliê foi solicitado para realizar obras na Inglaterra, na Argélia, nos Países Baixos, no Japão, na Romênia, na Turquia, nos Estados Unidos, na Espanha, na Argentina e, obviamente, aqui no Brasil. Gian Domenico morreu em 1903, rico e famoso.


sábado, 17 de setembro de 2011

La Divina in Cucina


Ontem fez 34 anos que morreu “La Divina”, Maria Callas. A grande diva da ópera tinha muitas paixões, e dentre elas, a de cozinhar. No livro A paixão secreta de Maria Callas, 2007, Editora Mercuryo, de Bruno Tosi, e com tradução no Brasil de minha colega Roberta Barni, professora da USP, podemos ler:

“Agora, porém, podemos acrescentar uma nova e curiosa peça ao mosaico de sua vida. A Divina, sabemos, tinha uma paixão secreta: a boa cozinha. Maria Callas adorava quitutes suculentos, as iguarias que os chefs do mundo inteiro cozinhavam em sua homenagem e que ela tinha de se limitar a provar beliscando dos pratos dos outros comensais, com resignação soberana e determinação feminina.
O que poucos sabem, no entanto, é que, para sublimar essa paixão, La Callas anotava meticulosamente as receitas favoritas, que pedia aos cozinheiros ou às donas de casa de quem, não raro, era convidada. Transcrevia-as com extremo rigor em minúsculas folhinhas de papel, que depois passava às mãos da fidelíssima Elena Pozzan, sua camareira e cozinheira pessoal da vida inteira. Depois, nos últimos anos em Paris, entregava-os ao mordomo e chofer Ferruccio Mezzadri, a pessoa que esteve mais próxima da artista ao longo de vinte anos, até o último dia de sua vida, com total devotamento.
Como se não bastasse, La Callas sempre teve um hobby, quase uma obsessão: juntar receitas publicadas pelos cadernos femininos e pelas revistas mais difundidas e populares, começando, no final da década de 40 e na de 50, pela Domenica del Corriere ou pela Annabella. E quando viajava, de teatro em teatro, todos os dias recortava receitas também dos jornais europeus e americanos.
Não podemos esquecer, além disso, seus inúmeros livros de cozinha, em todas as línguas, que formavam uma verdadeira biblioteca. Os primeiros, ela os ganhara da sogra Giuseppina, quando era a noiva e, a partir de 1949, a mulher de Giovanni Battista Meneghini. “Titta”, o marido, era realmente um bom garfo e Maria tinha de ser para ele uma cozinheira habilidosa. E assim na cozinha da rua San Fermo, sua primeira casa em Verona depois do casamento, tinha uma longa prateleira repleta de textos, a começar pelos clássicos da cozinha italiana, o mítico Artusi, Il talismano della felicità (O talismã da felicidade) de Alda Boni e a coletânea de receitas de Petronilla, da Domenica del Corriere.”

edição italiana

Edição brasileira

Mexilhões à marinheira (Cozze alla marinara) – receita da pág. 56

Para 4 a 6 pessoas

2 kg de mexilhões
300 ml de vinho branco
4 a 6 cebolas brancas picadas miudinho
1 macinho de ervas frescas
(tomilho, salsinha)
Pimenta-do-reino moída

 Numa travessa grande colocar as cebolas e o macinho de ervas frescas, acrescentar os mexilhões, o vinho branco e, quando os mexilhões estiverem abertos, pôr a pimenta.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Banquete para a Rainha Elizabeth II em Brasília - 1968


A visita da Rainha Elizabeth a Brasília começou em 5 de novembro de 1968 e a sua recepção, no Itamaraty, foi um das mais chiques na história de Brasília. Memorável naquela noite foi a gafe cometida pelo presidente Costa e Silva, ao final do discurso, documentada na época pela revista Manchete. No momento do brinde, ao final do discurso, o presidente ao erguer a taça repetiu inúmeras vezes a palavra god e parou por aí. O save the queen só foi pronunciado depois que um assessor soprou a frase no ouvido do presidente.

Em 1968, o traje de gala ainda não eram os smokings, mas as tradicionais e elegantes casacas, que, segundo pessoas que compareceram à recepção à rainha da Inglaterra, de tão compridas arrastavam nos tapetes do Itamaraty. O evento reuniu três mil pessoas e ficou conhecido pela voracidade com que os convidados avançaram sobre o bufê, já quase à meia noite, pois a formalidade da ocasião exigiu que a rainha perdesse horas em sessões de fotos e beija-mão. "Esfomeados, os presentes avançaram na comida. Houve gente que comeu caviar de colher", conta o jornalista Gilberto Amaral, que chegou a Brasília após a inauguração e testemunhou as festas mais marcantes realizadas na capital.

O jornalista Ari Cunha, d’O Globo, escreveu na ocasião: “Quem comparecer, hoje, à recepção que será oferecida à Rainha da Inglaterra, terá a oportunidade de ver belas obras de arte que o bom gosto do Embaixador Murtinho reuniu para o belo Palácio. A ala oeste do Salão de Recepções vai apresentar, numa das paredes, dois anjos de 1737, que pertenciam à Igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida para a abertura da Avenida Presidente Vargas, no Rio [...] Da Bahia, veio uma Santa Bárbara, do fim do século XVII. Numa nova sala que se decora e abre as portas pela primeira vez hoje, situada no lado leste do Salão de Recepções, de frente para o Anexo da Câmara, a parede será ornada com um grande quadro de Djanira, representando um Casario Bahiano (sic). Essa obra foi comprada para presentear um visitante ilustre, mas o Cerimonial preferiu retê-la no Palácio, pelo seu valor artístico e histórico. A grande novidade da decoração do Itamaraty, entretanto, será a parede à esquerda de quem sobe a escadaria circular no mezzanino do prédio. Ali foi colocado um tapete, especialmente para servir de cenário ao local em que a Rainha Elizabeth cumprimentará os Ministros de Estado e outros convidados ao banquete que o Presidente da República (Costa e Silva) lhe oferecerá. O tapete foi emprestado pelo Embaixador Joaquim de Souza Leão, ao Embaixador Murtinho, especialmente para a visita da Rainha da Inglaterra. Modelo de Eckhoud, foi presenteado pelo Rei Eduardo VII ao Lord Brovgan et Vauex, em reconhecimento pela hospedagem em sua Vila de Cannes à Rainha Victoria. Como simbolismo, não poderia ser melhor a escolha.”


Segundo a revista Istoé, O Itamaraty possui quatro salas destinadas a eventos e recepções a chefes de Estado, das quais três levam o nome das capitais do Brasil: Brasília, Rio e Bahia. A outra é a sala Portinari. Desde que foi inaugurado, em 1967, o Palácio nunca deixou de receber eventos externos. A primeira recepção oficial ocorreu em 14 de março do ano de sua inauguração, último dia do governo Castelo Branco. O Itamaraty não confirma oficialmente, por não possuir estatísticas sobre a utilização das salas, mas um dos chanceleres que mais usaram os salões para recepcionar chefes de Estado foi Luiz Felipe Lampreia, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. No governo do PSDB, era comum ele oferecer grandes almoços e jantares durante as visitas oficiais. A partir de 2003, com a chegada de Lula ao poder, esse costume foi abolido. Os petistas, segundo fontes do Itamaraty, dizem preferir os eventos noturnos.

Sala Brasília - Palácio do Itamaraty


Confira o cinevideo sobre a visita da Rainha ao Brasil. No minuto 4.09 aparece a recepção oferecida por Costa e Silva no Palácio do Itamaraty.
http://www.zappiens.br:80/videos/cgiqRW56xRInsJhsEGMcF1wuaAl1op8YcFGd1CYOynw2Og.FLV

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tony Bennet & Amy Winehouse

Ontem, a recém falecida pop star, teria completado 28 anos, e para comemorar a data, foi lançado um vídeo, até então inédito, que divido aqui.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Louça da nobreza brasileira II

serviço do Barão de Guaraciaba
porcelana francesa - séc. XIX

O mais ilustre morador da fazenda Veneza foi o Barão de Guaraciaba, Francisco Paulo de Almeida. Único titular do império de origem negra foi agraciado com o título em 16 de setembro de 1887, poucos meses antes da libertação dos escravos; foi também um dos mais interessantes e curiosos homens de nossa história. Dono de grande cultura, ele escolheu uma jovem branca para se casar, de família tradicional valenciana, e se esmerou em dar aos onze filhos uma educação refinada. Sabe-se ainda que era um grande comerciante.


Na fazenda Veneza e em outras fazendas na segunda metade do século XIX, manteve sua cultura de café até a morte de sua mulher em 1889. Sua fortuna chegava a mais de 622 mil contos de réis, contando todas as suas propriedades. Seus 413.000 pés de café tomavam conta das terras da Veneza. Depois da morte de sua esposa, Francisco Paulo, vendeu a fazenda para transformar o dinheiro da venda em apólices e legá-las aos seus filhos.

Fachinetti - final séc. XIX
ex-coleção Lily Marinho

Sua inteligência o levou a uma escalada de ascensão social, e tudo fez para ficar mais próximo da cidade imperial, quando em 1891, adquiriu o palacete da família Mayrink, localizada em frente ao Palácio Imperial de Petrópolis.
Curiosamente, não existe nenhuma documentação que revele o caráter abolicionista do Barão de Guaraciaba, ou mesmo que tenha tentado o trabalho livre em suas fazendas através de emigrantes europeus como fizeram outros fazendeiros, até mesmo o maior dos escravistas, Joaquim José de Souza Breves, entre outros, experiência esta que levou ao total fracasso, em todo o vale do Paraíba.
Adaptado da Revista do Café, março 2009

Lily Marinho foi proprietária da Fazenda Veneza até 2008.

interior da casa da Fazenda Veneza
(nos tempos de Lily Marinho)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pasta al nero di seppia con gamberi e scampi

Eis o prato principal do jantar que fizemos para a nossa "pequena" Elaine. Um formato de massa belíssimo, fusillo calabro, comprado aqui no Rio, no supermercado perto de casa, de fabricação, obviamente calabresa. O pastifício é quase artesanal e o sabor e a textura do macarrão são excelentes. Posso afirmar que tinha "gosto de Itália", como aquelas delícias que lá comemos no início deste ano. Elaine adorou. E nós também.



Ingredientes

300 g de fusillo calabro al nero di seppia (ou qualquer outra massa al nero)
300 g de camarões VM limpos
4 colheres de sopa de azeite de oliva extravirgem
3 dentes de alho picados
1 colher de sobremesa de pimenta calabresa seca
sal a gosto
salsinha picada a gosto (recomendo uma generosa porção)
12 alcaparras gigantes

3 lagostins grandes
2 dentes de alho picados
2 colheres de sopa de azeite de oliva
1 cálice de vinho branco seco
sal a gosto



Modo de preparar:

Coloque uma panela com bastante água para ferver, temperada com sal a gosto. Quando a água ja estiver fervendo, coloque o macarrão para cozinhar. Assim que estiver quase al dente, em uma frigideira grande, coloque o azeite de oliva para aquecer, doure o alho e adicione a pimenta calabresa. Em seguida, salteie os camarões, tempere com sal, e assim que estiverem no ponto adicione a salsinha picada. Tampe a frigideira e reserve. Em outra frigideira, coloque o azeite, doure o alho, adicione os lagostins, tempere com sal. Mexa, adicione o vinho branco, e assim que estiverem cozidos, desligue o fogo. Escorra a massa, misture-a aos camarões previamente preparados, acrescente as alcaparras gigantes. Faça as porções individuais e guarneça o prato com um lagostim. No mais, bom apetite.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Tartare de salmão

Há tempos não recebíamos hóspedes em casa. Nossa querida Elaine veio passar o feriado patriótico conosco, e no jantar de sexta-feira servimos esse tartare de entrada. O prato principal fica para o próximo post. O melhor de tudo, é que Elaine não tem restrições alimentares, e é um ótimo garfo! Decor, obviamente, by Carlos.


Tartare de salmão

Ingredientes
500 g de salmão cru em filé(s) sem a pele
1 maço de dill (ou aneto)
1/2 cebola picada
sal e pimenta-do-reino a gosto
5 colheres de sopa de azeite de oliva extravirgem
suco de meio limão siciliano
as raspas de meio limão siciliano

Modo de preparar

Corte o (s) filé(s) de salmão em listras de 1 cm de espessura. Pique as listras em pedaços bem pequenos, com uma faca bem afiada e coloque-os numa tigela. Lave o dill e pique muito bem, e misture ao salmão. Pique a cebola bem fina e misture ao salmão e o dill. Tempere com sal e pimenta-do-reino, acrescente as raspas do limão e o azeite de oliva e leve ao refrigerador por, no mínimo, uma hora. Decorrido esse tempo, adicione o suco de limão, corrija o sal se necessário e sirrva. Decore com folhas de endívia regadas com azeite de oliva e um ramo de dill. Se preferir, utilize um aro metálico redondo para empratar o tartare: revista a parte interna do aro com lâminas de salmão defumado (ou gravlax) e coloque o tartare no interior. Delicadamente, remova o aro, guarneça com endívias, torradas ou blinis, e finalize colocando uma colherada, generosa de caviar.







domingo, 11 de setembro de 2011

“¿Porqué no vamos a mi casa a comer un majadito?”


Segundo o escritor boliviano Omero Carvalho Oliva, essa é uma das frases mais comuns que se escuta nas ruas de Santa Cruz, na parte oriental da Bolívia.
Majao ou majau é o nome desse prato que, segundo o referido escritor, acreditava-se ser uma palavra de origem guarani, mas que na verdade é castelhana e significar "moer".
É um prato conhecido, apreciado e preparado na casa dos pais de Carlos, e eles contam que foram apresentados à iguaria por um amigo boliviano da família. Nas pesquisas que fiz na net, encontrei inúmeras receitas, muito diferentes entre elas, aliás.
Segue aqui a versão revisitada que preparamos para Elaine, no jantar de ontem a noite.

Ingredientes:
1 xícara de arroz branco tipo agulinha
2 xícaras de água fervendo
1e 1/2 colher de chá de sal
2 colheres de sopa de azeite de oliva
250 g de carne seca já cozida e desfiada
1 maço de couve picada bem fina
2 dentes de alho
2 xícaras de chá de folhas de hortelã picadas
3 ovos cozidos picados grosseiramente
3 bananas prata fatiadas na longitude

Modo de preparar:
Coloque o azeite na panela e doure o alho. Acrescente o arroz e o sal, mexa e derrame a água fervendo. Cozinhe em fogo médio e quando a água já estiver quase toda seca, adicione a carne seca desfiada, a couve picada e a hortelã. Mexa bem, adicione os ovos cozidos picados e corrija o sal, se necessário. Tampe a panela e numa frigideira antiaderente, frite as bananas fatadas até que se forme uma casquinha. Sirva o arroz guarnecido com as bananas fritas.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Louça da Nobreza Brasileira I

D. João VI e D. Carlota Joaquina

Os estudiosos Wanderley Pinho e Newton Carneiro, afirmam que a chegada da Corte ao Rio de Janeiro, em 1808, despertou, na burguesia local, o gosto pela mesa requintada, substituindo os velhos pratos de metal e de barro, encontradiços nos inventários da Colônia, pelo luzido acabamento das peças de porcelana, primeiramente do Oriente e, já no segundo quartel do século XIX, da Europa. A partir daí, os nobilitados pela Coroa passaram também a assinalar seus serviços com escudos, coroas e monogramas, dando origem às hoje disputadas coleções de louça brasonada, de que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os museus Histórico Nacional, Imperial de Petrópolis e Academia de Letras da Bahia possuem expressivas coleções.

Tema controverso para historiadores e colecionadores é o dos serviços de mesa trazidos pelo Príncipe Regente, quando da transferência da Corte para o Brasil, ou aqui adquiridos para uso da Casa Real. E a razão de tal fato é a ausência, ou pelo menos a não localização até a presente data, aqui ou em Portugal, de documentação idônea, seja pelo desaparecimento dos arquivos dos Condes de Redondo, em que, segundo consta, existiria minucioso inventário das peças embarcadas com a Família Real, seja pela lacônica descrição das alfaias dos Paços Imperiais, quando do Leilão de 1890.

foto IHGB

Dos oito serviços de jantar da Companhia das Índias tidos como de D. João VI - Galos (A), Pavões, Corças, Correios, Pastores (B), das Rosas, Vista Grande (C) e Vista Pequena - o Instituto possui exemplares dos primeiro, quinto, sétimo e oitavo, assim conhecidos em razão dos padrões de decoração. E, dos doze serviços de porcelana européia, oito - Reino Unido (D) e Camaristas, em porcelana francesa, Espinha de peixe e os chamados 'de barra bordeaux' (F), 'sépia e verde' e "de barra rosa", em porcelana possivelmente também francesa, o de "Wedgwood" (E) e o conhecido também como "das Rosas", em porcelana inglesa.
Serviço das Rosas - Inglaterra, séc. XVIII


Serviço das Corças - Cia. das Índias, séc. XVIII

Serviço do Reino Unido - Cia das Índias

Serviço dos Pavões - Cia das Índias

Fazenda Santa Cruz

Com o banimento dos Jesuítas do Brasil, o patrimônio da Fazenda de Santa Cruz reverteu para a Coroa, passando a se subordinar aos Vice-reis. Após um período de dificuldades administrativas, sob o governo do Vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza, a Fazenda voltou a conhecer um período de prosperidade.
No início do século XIX, com a chegada da Família Real ao Brasil (1808) e o seu estabelecimento no Rio de Janeiro, a Fazenda foi escolhida como local de veraneio. Desse modo, o antigo convento foi adaptado às funções de paço real -Palácio Real de Santa Cruz.
Sentindo-se confortável na Real Fazenda de Santa Cruz, o Príncipe Regente prolongava a sua estada por vários meses, despachando, promovendo audiências públicas e recepções a partir da mesma. Nela cresceram e foram educados os príncipes D. Pedro e D. Miguel.
Por iniciativa do soberano português foram trazidos da China cerca de cem homens encarregados de cultivar chá, no sítio hoje conhecido como Morro do Chá. Durante quase um século essa atividade foi produtiva e atraiu o interesse de técnicos e visitantes, tal o pioneirismo de sua implantação no Brasil. No entanto, de acordo com o jornalista Patrick Wilcken, no seu livro Império à Deriva (2010), o chá-da-índia cultivado em solo brasileiro não apresentou as mesmas características originais, sendo de qualidade inferior e de gosto amargo, o que acarretou em fracasso econômico ao contrário do café.
D. João VI despediu-se de Santa Cruz em 1821, para retornar à Metrópole Portuguesa.

Serviço dos Galos da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Serviço Vista Grande da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Serviços da Vista Pequena da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Pertencente à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz, o Serviço das Corças possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação.

Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço Vista Grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.

O Serviço das Rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.

Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado Vista Pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Barão de Paramirim

Miguel José Maria de Teive e Argolo, primeiro e único barão de Paramirim (Cotegipe, Bahia, c.1802 — 1868) foi um fazendeiro e militar brasileiro. Filho de José Joaquim de Teive e Argolo e Maria Luísa de Argolo Queirós, casou-se com sua prima Bernarda Maria de Teive e Argolo. Aos 20 anos de idade participou, como capitão da infantaria de milícias, da campanha da Independência do Brasil. Era tenente-coronel da Guarda Nacional em São Francisco do Conde, em 1839. Elevado a coronel honorário do Exército, em 1864. Era, também,  Comendador da Imperial Ordem de Cristo, Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro e fidalgo cavaleiro da Casa Imperial.

Prato do serviço de porcelana do Barão
manufatura francesa do século XIX


"Outrora reinava a mesma sociabilidade farta; entretanto a tristeza da mulher colonial, o seu retraimento, a rudeza dos hábitos primitivos e duros, não permitiam ainda que os salões se abrissem, para o luxo e a delicadeza dos saraus. As festas eram de ordinários campestres ou religiosas, ao ar livre, em contato com a natureza, cavalhadas, calçadas, refeições medievais, nos pátios dos engenhos, adoçadas pela música dos negros, pelos descantes dos trovadores que batiam as estradas pagando os agasalhos com as canções, pelos discursos burlescos e pelos jogos florais. A várias dessas cenas de sabor quinhentista se referiu, na sua poética, Gregório de Matos, parceiro delas, e obrigatória figura das folganças e aventuras da fidalguia, nos engenhos baianos do fim do século XVII. Século e meio depois, as portas da casa-grande se tinham aberto, iluminando-se com os candelabros de prata as salas mobiliadas à moda francesa. O cravo e o piano substituem a viola boêmia dos cantadores do passado e os instrumentos bárbaros dos músicos africanos. As senhoras recebem de Paris o vestido, as jóias; e os homens trazem das universidades alemãs a educação moderna, o cavalherismo romântico, e o gosto intelectual, a figura das raças requintadas. As mansões do recôncavo (pequenos castelos...) adornam-se primorosamente, afidalgam-se de arte e cerimoniais, reproduzem, em hábil transação com a rotina e a barbárie das senzalas, uma vida de pequena corte, com os lacaios fardados, as carruagens e os barcos de passeio, os festins, a hospedagem nobre, a ostentação que devia indicar o grau de cultura, a hierarquia do senhor. Organizam eles as suas bibliotecas, nas quais tem lugar de honra a Revue de deux mondes e as obras dos enciclopedistas do século XVIII. No engenho “Morenos” em Pernambuco, leu o imperador um manuscrito do “Castrioto”... Formam assim o espírito crítico, estrangeiro naquele meio acanhado, enchendo-o porque as ressonâncias da Pátria eram mais vagas, mais distantes, de impressões e curiosidades européias. Contrariam a tradição da casta, antigamente sedentária, imobilizada nas suas terras de cana, viajando muito. A primeira necessidade disto estava no ensino dos filhos. Rotos os laços portugueses, ainda desacreditadas as faculdades do país, o que lhe parecera mais próprio e digno fora mandar os rapazes a Heidelberg e Berlim. Na década de 30-40, as universidades da Alemanha educam numerosos brasileiros, sobretudo baianos, pernambucanos, maranhenses. Regressando ao engenho, levam consigo o “ambiente” oral da mocidade; exilam-se no torrão natal; não se adaptam mais à brutalidade do trabalho servil e à melancolia da vida campesina; são espiritualmente outros tantos desenraizados. Mas fomentam a civilização, transplantando-lhes as comodidades: estudante que volta, transporta na bagagem a alfaia, o utensílio, a indumentária, o livro, o sport, os vícios sociais, as aspirações políticas, o móvel dourado, os quadros célebres, os figurinos modernos, que compõem, na Europa, o decoro aristocrático, ou da pretensiosa burguesia. Generaliza-se a mania do retrato a óleo, as paredes da casa-grande, tão despidas nos tempos lamentáveis da reclusão feminina, resplandecem agora, com a galeria de quadros de família. Os melhores artistas ganham a vida no Brasil, retratando os morgados; alguns, em excursões pelo interior, enriquecem, pintando baronesas e fazendeiros. Vem depois a tapeçaria, os “serviços” de Saxe e Limoges, as mobílias de Boulle, a prataria do Porto, os cristais de Boêmia, a preceptora alemã, o professor particular, o administrador para o engenho, substituindo o bronco feitor de calabrote em punho, e o restante aparato, que arruína devagar, mas brilhantemente, o proprietário agrícola. O barão de Paramirim, senhor de engenho na Vila de São Francisco, homenageou o imperador e sua comitiva – em 1859 – com duas admiráveis, imperiais baixelas de prata e porcelanas finas. Semelhante opulência achou D. Pedro II pelos engenhos que visitou, na Bahia e em Pernambuco, nesta província principalmente na propriedade de Antonio de Souza Leão..."

CALMON, Pedro. História Social do Brasil: Espírito da Sociedade Imperial. São Paulo: Martins Fontes, 2002. v. 2.

sábado, 3 de setembro de 2011

Sopa de quinoa e tomate

A quinoa é um grão que teve seu cultivo iniciado há mais de cinco mil anos nos Andes bolivianos. Como o milho e a batata, a quinoa era a base da alimentação no império Inca. Existem mais de 17 tipos diferentes deste grão, conhecido também como "Grão Sagrado".
É encontrado em forma de flocos, grãos e farinha, em grande parte do Brasil. Dentre os benefícios do consumo, estão a prevenção de câncer de mama, osteoporose e problemas cardíacos, além da melhora da imunidade, da aprendizagem e da memória e recuperação de tecidos, entre outros.
No Brasil, os experimentos com a quinoa foram iniciados na década de 80. Um redescobrimento do grão que apesar de pouco divulgado promete em pouco tempo ser inserido e aceito na alimentação do brasileiro.
As pesquisas mostram que o Brasil possui um excelente potencial para produção do grão. Um estudo realizado pela EMBRAPA e o departamento de nutrição da universidade de São Paulo comparou a quinoa brasileira com a cultivada na Bolívia e concluiu que o perfil de proteínas de ambas é de 90%.
Ela é rica em vitaminas a como a B-6, B-1 e em menores quantidades as vitaminas E e C. Para se ter uma ideia, em apenas 100 gramas da quinua podemos encontrar 9,5 miligramas de ferro, 286 mg de fósforo, 112 mg de cálcio e ainda apresenta um valor entre 67 e 74 % de hidratos de carbono, essencialmente na forma de amido. Seu teor energético também é alto, em torno de 347 kcal por 100g.
O quinoa é uma espécie de irmã da soja, mas com uma concentração de ferro bastante elevada e se comparada ao nível de assimilação da soja e da carne que é de 60 %, ela as supera, sendo assimilada pelo organismo em até 75%.


Ingredientes:

½  xícara de chá de quinoa crua em grão
1 ½  xícara de água
1 dente de alho amassado
2 colheres de sobremesa de azeite de oliva
3 xícaras de chá de tomate maduro sem pele e sem sementes cortados em cubos
1 talo de salsão picado
1 ½  litro de caldo caseiro de carne ou galinha
1 colher de sobremesa de orégano fresco
Sal marinho a gosto

Modo de Preparar
Cozinhe a quinoa em água por 15 minutos. Em uma panela grande, doure o alho e a cebola no azeite. Acrescente o tomate e o salsão. Deixe cozinhar por 10 minutos (ou até os tomates desmancharem) e junte o caldo. Tempere com orégano e sal. Por último, acrescente a quinoa cozida e desligue o fogo.

Fonte: receita da nutricionista Mariana Froes, do Rio de Janeiro, disponível em www.marianapfroes.blogspot.com