sábado, 9 de agosto de 2014

Madeleines de Marcel Proust


“E mal reconheci o gosto do pedaço de madalena molhado em chá que minha tia me dava (...), eis que a velha casa cinzenta, de fachada para a rua, onde estava seu quarto, veio aplicar-se, como um cenário de teatro, ao pequeno pavilhão que dava para o jardim e que fora construído para meus pais ao fundo da mesma (...); e, com a casa, a cidade toda, desde a manhã à noite, por qualquer tempo, a praça para onde me mandavam antes do almoço, as ruas por onde eu passava e as estradas que seguíamos quando fazia bom tempo. E, como nesse divertimento japonês de mergulhar numa bacia de porcelana cheia d’água pedacinhos de papel, até então indistintos e que, depois de molhados, se estiram, se delineiam, se colorem, se diferenciam, tornam-se flores, casas, personagens consistentes e reconhecíveis, assim agora todas as flores do nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e as ninfeias do Vivonne, e a boa gente da aldeia e suas pequenas moradias e a igreja de Combray e seus arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardim, da minha taça de chá”.

Extraído de "Em busca do tempo perdido"





Comida e memória: essa talvez seja a mais célebre das páginas da Literatura mundial onde esse binômio se verifica de maneira muito intensa. A capacidade de trazer a memória da infância, dos "bons tempos" como diriam as nossas avós, através do aroma liberado pelo bolinho mergulhado dentro da xícara de chá, evoca, também, recordações das nossas infâncias.

A madeleine nasceu na cidade de Commercy, na região da Lorena, na França. Conta-se que em 1775 Estanislau Leszczynski (1677 - 1766), rei da Polônia e Duque de Lorena, sogro de Luís XV, recebeu para um jantar o filósofo Voltaire e Madame de Châtelet. Durante o jantar ele foi informado que o seu doceiro havia brigado com o cozinheiro e abandonado o seu posto. Preocupado com o fiasco que poderia se tornar aquele jantar, pois uma refeição sem sobremesa era inconcebível, o chef ordenou à jovem ajudante que se encontrava na cozinha de preparar algo enquanto ele entretinha os convidados na sala de jantar.  No momento oportuno, foram servidos pequenos bolinhos em formato original, dourados e macios. Assim que foram degustados, o rei imediatamente mandou chamar o autor daquela delícia; e eis que se apresenta a jovem:

- "Como se chama essa obra-prima?"
- "Ela não tem um nome, Senhor; nós a fazemos em nossa casa, aqui em Commercy, para os dias de festa".
- "E qual é o seu nome?"
- "Madeleine, Senhor".
- "Pois bem, chamar-se-á Madeleine de Commercy, como você!"


Receita

65 g de farinha de trigo
65 g de manteiga clarificada
65 g de açúcar
1 ovo e mais uma gema

Em uma tigela bata o ovo e a gema adicional com o açúcar até que a mistura fique clara e espumosa. Adicione a farinha peneirada e mexa com uma espátula, depois junte a manteiga e misture bem. Deixe a massa repousar em local fresco por pelo menos duas horas.
Pré-aqueça o forno a 240 graus, unte  enfarinhe uma forma para madeleines, coloque porções de massa em cada uma das cavidades e leve ao forno. Após cinco minutos, diminua temperatura para 200 graus. Assim que estiverem bem douradas, espete um palito e retire do forno. Desenforme-as ainda quentes e polvilhe com açúcar de confeiteiro.


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