França - séc. XIX
Esta colher perfurada é usada para dissolver um cubo de açúcar num copo de absinto.
Coloca-se a colher por cima do copo com absinto e coloca um cubo de açúcar por cima da colher. Na era Vitoriana, pingava-se uma gota de láudano no torrão de açúcar! Despeja-se água por cima do cubo e através das perfurações da colher. Adicionar açúcar serve para adoçar a bebida e diminuir o amargor da mesma.
"Van Gogh, Rimbaud, Beaudelaire. Um trio irrepetível, com uma musa comum. Uma bebida destilada feita da erva arthemisa absynthum. No século XIX, era a bebida dos que procuravam novas sensações. Os efeitos do absinto tornam-na um pecado tentador para os artistas. Após o seu consumo, embora o corpo apresente efeitos de embriaguez, os sentidos estão apurados: os cheiros mais fortes, as cores mais intensas. A Fada Verde tem ainda o condão de concentrar o mundo inteiro num detalhe; aqueles que bebem absinto podem abstrair-se de tudo o que os rodeiam e focar-se numa melodia, numa forma, e apreciá-la com todos os sentidos. Esta qualidade explica o porquê da unânime adesão dos artistas franceses.
Poetas como Rimbaud e Verlaine atribuíam ao absinto a sua inspiração, a capacidade de se desligarem do real, de observarem o que os rodeava de uma nova perspectiva. Degas, Sarah Bernhard, Van Gogh, Lautrec, Gauguin, Manet e Monet são apenas alguns dos nomes dos que apreciavam as tertúlias inspiradas pela Fada Verde e cujo trabalho foi concebido sob a influência da musa que habitava as garrafas de absinto. Na companhia de um copo de absinto escreveram e pintaram, debateram e partilharam ideias, comentaram mundaneidades, cantaram ou declamaram poesia.
Na França da segunda metade do século XIX, o absinto era um símbolo de inspiração artística e por isso o nome “Fada Verde”, “Musa Verde” ou, nas palavras do ocultista britânico Alastair Crawley - que chegou a vir a Portugal para conhecer Pessoa - a “Deusa Verde”.
De inspiração dos vanguardistas a ópio dos mundanos e ódio de estimação de uma opinião pública alimentada por manchetes sensacionalistas, o absinto passou de bebida adorada a bebida banida nos principais estados europeus. O absinto era, claramente, uma bebida demasiado à frente para o século XIX. Rapidamente os mais hediondos crimes foram justificados pelo consumo desta bebida, constando a Fada Verde nos títulos mais escabrosos apregoados pelos ardinas. O ateísmo, a vida errática e boémia, a inconstância e, em alguns casos, até a demência, eram factores associados ao consumo de absinto. Há inclusive inúmeros relatos sensacionalistas que associam os crimes “de faca e alguidar” ao consumo de absinto.
De bebida popular em 1840, a Fada Verde foi proibida em quase todos os países europeus no princípio do século XX, à excepção do Reino Unido, Suécia, do Império Austro-Húngaro, Espanha e Portugal.
Nos anos noventa, com a liberalização da sua produção e consumo pela União Europeia, assistiu-se ao renascer das cinzas da Fada Verde que surge agora não como musa de artistas, como meio de alcançar um estádio de surrealismo, mas como catalizador de noites loucas, de binge drinking.
A bebida que hoje está associada a shots, foi em tempos a musa inspiradora de uma das mais prolíferas gerações de artistas de sempre. A segunda metade do século XIX dedicou-lhe poemas, quadros numa exaltação comum de uma musa proibida.
Hoje e Ontem
O absinto, hoje e então, poucas vezes é consumido puro. O ritual de consumo de absinto também o separa das restantes bebidas destiladas. Em Portugal, a forma mais popular de consumo de absinto é em shot. Num copo pequeno, deita-se um bocadinho de vodka (há quem ponha um cheirinho de sumo de limão). Cobre-se o copo com meia rodela de limão polvilhada de açúcar e canela. Deita-se absinto no limão e deixa-se escorrer. Com um isqueiro, deixa-se o absinto arder um bocadinho e bebe-se de um trago.
No século XIX, o absinto era também servido num copo pequeno. Juntava-se uma dose pequena da Fada Verde e colocava-se no topo do copo uma colher de absinto (uma espécie de colher com furinhos), em cima do qual era posto um cubo de açúcar. Depois vertia-se lentamente água gelada sobre o cubo de açúcar até à proporção de 3 para 1. O anis, presente no absinto, não se diluía na água o que dava à bebida um tom baço e perlado.
No século XIX, o absinto era também servido num copo pequeno. Juntava-se uma dose pequena da Fada Verde e colocava-se no topo do copo uma colher de absinto (uma espécie de colher com furinhos), em cima do qual era posto um cubo de açúcar. Depois vertia-se lentamente água gelada sobre o cubo de açúcar até à proporção de 3 para 1. O anis, presente no absinto, não se diluía na água o que dava à bebida um tom baço e perlado.
Origens
Atribui-se a sua criação, tal como o conhecemos e consumimos hoje, a um farmacêutico de Neuchatel, Suíça. A primeira destilaria de absinto surge pela mão de descendentes do seu criador e de Henry-Louis Pernod, tornando-se a origem de um império e referência na produção de bebidas alcoólicas que, com a junção à família Ricard, forma o império Pernod-Ricard que dura até hoje."
Texto de Isabel Calado disponível em http://www.ruadebaixo.com