domingo, 10 de agosto de 2014

Qatayef ou ataife de nozes

Adoro esse doce. Lembra a minha adolescência em Curitiba. Tínhamos vizinhos árabes que preparavam-no muito bem, e sempre nos davam uma bela porção. Era sublime. Também na adolescência, costumava comer qatayef no restaurante Oriente Árabe, um clássico da capital paranaense, que acredito ainda esteja aberto.
Todavia, aqui no Rio, embora o número de restaurantes árabes seja muito grande, nunca consegui comer. Nenhum deles prepara essa joia da doçaria árabe, perfumada de oásis e jardins exóticos, e dourada como o sol do deserto.

Água de flor de laranja: ingrediente fundamental da doçaria árabe

Viajando pela net, numa pesquisa que nada tinha a ver com o referido doce, deparei-me com uma receita. O blog visitado (http://fragoleefarfalle.wordpress.com/category/lebanese-cuisine/) oferece uma receita perfeita, aprovadíssima. Eu fiquei bastante tentado a prepará-lo e, para testar, fiz apenas meia receita, mas já me arrependi, pois o resultado foi fantástico, e os doces ficaram para lá de bons. Sem falsa modéstia.


Ingredientes

2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de leite mornou ou temperatura ambiente
1 colher de sopa de açúcar
1 tablete de fermento químico para pão de 15g

Recheio
250 g de nozes trituradas
2 colheres de sopa de água de flor de laranja (maizaar)
1 colher de sopa de açúcar

Calda
250 ml de água
1/2 kg de açúcar
algumas gotas de limão
água de flor de laranja a gosto

Modo de preparar

Dissolva o fermento com a colher de sopa de açúcar, misture a farinha e o leite, e bata tudo no liquidificador ou no mixer até obter uma massa lisa e semelhante à massa de panqueca, com a formação de bastante bolhas. Despeje em uma tigela, cubra com um pano e deixe crescer por 2 horas, em local seco. Triture as nozes, misture o açúcar e a água de flor de laranja e reserve. Prepare a calda de açúcar, dissolvendo o açúcar na água com algumas gotas de limão, e ferva em fogo baixo até reduzir pela metade. Ao final dessa operação, acrescente a água de flor de laranja e reserve.
Transcorrido o tempo de crescimento da massa, ou seja, aquelas duas horas, você verá uma massa cheia de bolhas de ar. Quanto mais bolhas se formarem, melhor ficará a massa. Aqueça uma frigideira antiaderente, e com o auxílio de uma pequena concha, derrame porções da massa na frigideira, aplaine com a concha e deixe ficar bem dourada a parte em contato com a frigideira. Você verá que automaticamente a parte de cima ficará também cozida, mas não dourada. Frite todos os discos de massa, espere esfriar um pouco, e depois recheie-os com uma colherada abundante do preparado de nozes. Dobre ao meio, como se fosse um pastel, e aperte as extremidades com as pontas dos dedos para lacrar os qatayefs. No momento de servir, regue o doce com abundante calda de açúcar, e se prepare para mergulhar numa atmosfera de mil e uma noites. Depois me conte o resultado...


Preparação do qatayef na cidade velha de Sidon, Líbano, durante o mês do Ramadã
Foto de Mohamad Torokman/Reuters

Moldes para manteiga



Vivemos hoje a era das formas de silicone, a maioria delas made in China, com os mais variados tamanhos, formatos, cores e preços. Inclusive forminhas para manteiga, mas para porções individuais, se você quer dar um charme ao seu evento, seja ele café da manhã, lanche ou jantar. mas nem sempre foi assim...



Moldes de manteiga foram esculpidos pelo menos desde o século XVII como uma forma decorativa e de identificação da procedência da manteiga. Belos exemplos ornamentados são abundantes nos países germânicos onde era uma arte popular, especialmente esculturas em madeira. Os moldes foram esculpidos originalmente pelos agricultores para uso próprio, por vezes, incluindo as suas siglas e símbolos heráldicos, mas principalmente para retratar o mundo pastoral e simples ao seu redor: animais de fazenda, pássaros e outras criaturas selvagens, flores e frutas realistas e estilizadas. 






Os imigrantes levaram a arte da escultura dos moldes para os Estados Unidos e com eles a tradição continuou naquele país até que a necessidade desses moldes foi tão grande que, no século XIX, as fábricas começaram a produzir moldes de madeira com tornos e outras ferramentas para economizar tempo e esforços. Seu custo original de cinco ou dez centavos por peça hoje são vendidos em leilões e lojas de antiguidade de 300 a  400 dólares por peça. Dependendo da originalidade e estado de conservação.










sábado, 9 de agosto de 2014

Madeleines de Marcel Proust


“E mal reconheci o gosto do pedaço de madalena molhado em chá que minha tia me dava (...), eis que a velha casa cinzenta, de fachada para a rua, onde estava seu quarto, veio aplicar-se, como um cenário de teatro, ao pequeno pavilhão que dava para o jardim e que fora construído para meus pais ao fundo da mesma (...); e, com a casa, a cidade toda, desde a manhã à noite, por qualquer tempo, a praça para onde me mandavam antes do almoço, as ruas por onde eu passava e as estradas que seguíamos quando fazia bom tempo. E, como nesse divertimento japonês de mergulhar numa bacia de porcelana cheia d’água pedacinhos de papel, até então indistintos e que, depois de molhados, se estiram, se delineiam, se colorem, se diferenciam, tornam-se flores, casas, personagens consistentes e reconhecíveis, assim agora todas as flores do nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e as ninfeias do Vivonne, e a boa gente da aldeia e suas pequenas moradias e a igreja de Combray e seus arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardim, da minha taça de chá”.

Extraído de "Em busca do tempo perdido"





Comida e memória: essa talvez seja a mais célebre das páginas da Literatura mundial onde esse binômio se verifica de maneira muito intensa. A capacidade de trazer a memória da infância, dos "bons tempos" como diriam as nossas avós, através do aroma liberado pelo bolinho mergulhado dentro da xícara de chá, evoca, também, recordações das nossas infâncias.

A madeleine nasceu na cidade de Commercy, na região da Lorena, na França. Conta-se que em 1775 Estanislau Leszczynski (1677 - 1766), rei da Polônia e Duque de Lorena, sogro de Luís XV, recebeu para um jantar o filósofo Voltaire e Madame de Châtelet. Durante o jantar ele foi informado que o seu doceiro havia brigado com o cozinheiro e abandonado o seu posto. Preocupado com o fiasco que poderia se tornar aquele jantar, pois uma refeição sem sobremesa era inconcebível, o chef ordenou à jovem ajudante que se encontrava na cozinha de preparar algo enquanto ele entretinha os convidados na sala de jantar.  No momento oportuno, foram servidos pequenos bolinhos em formato original, dourados e macios. Assim que foram degustados, o rei imediatamente mandou chamar o autor daquela delícia; e eis que se apresenta a jovem:

- "Como se chama essa obra-prima?"
- "Ela não tem um nome, Senhor; nós a fazemos em nossa casa, aqui em Commercy, para os dias de festa".
- "E qual é o seu nome?"
- "Madeleine, Senhor".
- "Pois bem, chamar-se-á Madeleine de Commercy, como você!"


Receita

65 g de farinha de trigo
65 g de manteiga clarificada
65 g de açúcar
1 ovo e mais uma gema

Em uma tigela bata o ovo e a gema adicional com o açúcar até que a mistura fique clara e espumosa. Adicione a farinha peneirada e mexa com uma espátula, depois junte a manteiga e misture bem. Deixe a massa repousar em local fresco por pelo menos duas horas.
Pré-aqueça o forno a 240 graus, unte  enfarinhe uma forma para madeleines, coloque porções de massa em cada uma das cavidades e leve ao forno. Após cinco minutos, diminua temperatura para 200 graus. Assim que estiverem bem douradas, espete um palito e retire do forno. Desenforme-as ainda quentes e polvilhe com açúcar de confeiteiro.